O Globo
A claque em verde e amarelo tomou o saguão
do aeroporto. Do lado de fora, a polícia tentava controlar o enxame de motos e
caminhonetes. Quando o portão se abriu, o visitante foi recebido com gritos de
euforia. Ele acenou para os seguidores, subiu na caçamba de uma picape e seguiu
em cortejo pela cidade.
Parecia uma cena da campanha de 2018, que
conduziu Jair Bolsonaro ao Planalto. Mas aconteceu no último domingo, em sua
primeira viagem pelo país como ex-presidente.
O capitão escolheu Ribeirão Preto, no
interior paulista, para testar a popularidade. Fez bem. Depois de uma temporada
de ostracismo em Brasília, ele reviveu os dias de glória na autoproclamada
capital do agronegócio.
A apoteose foi guardada para o feriado do 1º de Maio. Montado num cavalo branco, Bolsonaro teve recepção de popstar na Agrishow. Desfilou com o governador Tarcísio de Freitas, subiu em tratores e fez comício contra o governo Lula. Na volta ao palanque, reciclou o repertório de sempre. Citou o nome de Deus, defendeu o “nosso agro” e atacou a demarcação de terras indígenas e quilombolas.
A presença de Bolsonaro mexeu com os brios
do governo. O ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, cancelou a visita à
feira. O chefe da Secom, Paulo Pimenta, anunciou que o Banco do Brasil
retiraria o patrocínio ao evento. A ameaça não se concretizou: o banco manteve
as ações de marketing e a expectativa de movimentar R$ 1,5 bilhão em negócios.
Mas o episódio criou mais um foco de tensão entre o Planalto e o setor agrícola.
O agro já deixou claro que prefere o
ex-presidente. Vibra com o discurso armamentista, o patriotismo de goela e as
imprecações contra a reforma agrária e a demarcação de terras. Ainda assim, o
setor depende fortemente de subsídios e linhas de crédito dos bancos oficiais.
E o capitão não pode cuidar de nada disso fora do poder.
Apesar do risco de vaias, Fávaro deveria
ter ido à Agrishow para fazer anúncios e mostrar que o governo mudou de mãos,
mas não deu as costas aos produtores. Ao desistir do evento, o ministro só
deixou o palanque livre para Bolsonaro.
Que vergonha!
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