O Estado de S. Paulo
A CPI do MST, que é contra Lula, vai inflacionar os preços da votação da âncora fiscal
Cumpriu-se a profecia (inclusive de
Fernando Haddad) de que a nova âncora fiscal teria mais de 300 votos na decisão
sobre a urgência, que é apenas o primeiro passo. Depois o caminho costuma ficar
mais íngreme e árido, com grande risco de surpresas, e o problema não é do (ou
só do) governo, mas principalmente do Congresso.
Diferentemente do PL das Fake News e das mudanças no Marco do Saneamento, há um consenso favorável à nova âncora fiscal. Daí o placar de 367 votos a favor e 102 contra a urgência. Mas já há 40 emendas à proposta e, por exemplo, PSOL e Rede, aliados do governo, votaram contra a urgência. Eles, de um lado, o Centrão, do outro, e o PT atrapalhando o tempo todo, acenam com muita negociação, o que corresponde a muita cobrança.
O Congresso não está fácil. Basta ver a
aprovação da PEC da Anistia, aprovada por 45 a 10 na Comissão de Constituição e
Justiça (CCJ) da Câmara. Trata-se de uma autoanistia (a quarta seguida) dos
partidos, com um “detalhe”: tanto o PT de Lula quanto o PL de Bolsonaro votam e
trabalham a favor, enquanto o TSE cassa o mandato de Deltan Dallagnol e o STF
tem maioria para pôr Fernando Collor na prisão.
Radicalização ideológica à parte, PT e PL
se entendem quando o interesse é comum. O do PT é se livrar de pagar R$ 23 milhões
para a Justiça Eleitoral e o do PL, de uma dívida de R$ 4,7 milhões. Eles
consideram esses milhões de motivos suficientes para jogar ainda mais a
sociedade contra o Congresso, que vota a lei, descumpre a lei e depois anula a
lei que aprovou.
Esse é um bom flash do Congresso que aí
está e que, além da âncora fiscal, vai ter de se desdobrar entre quatro CPIs,
três da Câmara, mais a mista (deputados e senadores) sobre o 8/1, que está
fazendo água. A que emerge com muita força é a que mira o MST para acertar em
Lula.
A maior derrota do governo não foi
saneamento ou PL das Fake News, foi outra: a CPI do MST, na qual a oposição
terá toda a cúpula e o relator será Ricardo Salles, o ex-ministro do Meio
Ambiente que “passava a boiada” justamente no ambiente e caiu sob suspeita de
cumplicidade com madeireiros ilegais.
São 40 membros ligados ao agronegócio e 14
ao MST e à esquerda, o que vai determinar a pauta e os depoentes. Ministros e
aliados de Lula vão ficar na linha de fogo para massificar a tese bolsonarista
de que Lula defende invasão de terras, regimes autoritários e implantação do
comunismo no Brasil. Fake news, claro, mas vai ganhar holofotes com a CPI. E o
Planalto vai ter de pagar ainda mais caro pelos votos na âncora fiscal.
O congresso é babado forte.
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