terça-feira, 16 de maio de 2023

Eliane Cantanhêde - Lula e PT, Bolsonaro e Cid

O Estado de S. Paulo

Bolsonaro vai dizer hoje que não sabia de nada; e se Mauro Cid disser o oposto?

Cada um com sua agonia. A âncora fiscal começa de fato a tramitar no Congresso, com o presidente Lula às voltas com o PT, o Congresso e sua obsessão de recuperar protagonismo internacional e reinventar a roda aqui no Brasil. E o ex-presidente Jair Bolsonaro vai depor hoje em meio a um turbilhão de denúncias que nunca acabam, cada uma pior que a outra.

Como dizem na Fazenda, “negociar com o Congresso não é nada, duro mesmo é aguentar o PT e a Gleisi (Hoffmann)”. E é assim que a âncora fiscal começa a efetivamente tramitar, com sete partidos “progressistas” esticando a corda para um lado, o centro e os moderados puxando para o outro, e a oposição se divertindo.

A expectativa é de aprovação da âncora, mas que âncora? Até agora, com uma receita que exclui o Fundo Amazônia, despesas que não consideram Bolsa Família e salário mínimo e sem responsabilização em caso de não cumprimento, na linha de Dilma Rousseff: “Não vamos colocar uma meta. Vamos deixar em aberto. Quando a gente atingir uma meta, a gente dobra a meta”.

Se Lula tem bons motivos para não dormir direito, Bolsonaro tem muito mais: pandemia, atestados falsos de vacina, joias milionárias da Arábia Saudita, cartão corporativo, depósitos de empresa com negócios com o governo, toneladas de bisteca não entregues a reservas indígenas, sem falar a intervenção na PF, na Receita...

O teste de fogo de Bolsonaro será o confronto entre seu depoimento à PF, hoje, e o do seu ex-ajudante de ordens, tenente-coronel da ativa Mauro Cid, quinta-feira. Assim como o PT estica a âncora para um lado e o centro para o outro, Bolsonaro vai dizer que não sabia nadica de nada sobre as estripulias de Cid e Cid pode dizer o contrário. Bolsonaro destruiu o futuro de Mauro Cid, que diz que fez tudo por conta própria ou admite o óbvio, que só cumpria ordens. É o que vai definir entre uma pena alta ou amenizada.

Os dois depoimentos são sobre atestados falsos de vacina, mas as digitais do coronel estão por toda a parte também em quatro investigações: vazamento de inquérito sigiloso da PF em live do presidente com fake news sobre urna eletrônica; caixa 2 e dinheiro vivo para pagar contas até de irmão e tia de Michelle Bolsonaro; a determinação em botar a mão nas joias sauditas.

Bolsonaro diz que não tem a menor ideia de nada disso. Resta saber se ele ainda tem o poder de transformar um oficial de grande futuro em um preso e se Mauro Cid mantém a sabujice do então general da ativa Eduardo Pazuello: “um manda, o outro obedece”. A resistência da família e o efeito cadeia podem fazer toda a diferença.

 

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