O Estado de S. Paulo
Bolsonaro vai dizer hoje que não sabia de nada; e se Mauro Cid disser o oposto?
Cada um com sua agonia. A âncora fiscal
começa de fato a tramitar no Congresso, com o presidente Lula às voltas com o
PT, o Congresso e sua obsessão de recuperar protagonismo internacional e
reinventar a roda aqui no Brasil. E o ex-presidente Jair Bolsonaro vai depor
hoje em meio a um turbilhão de denúncias que nunca acabam, cada uma pior que a
outra.
Como dizem na Fazenda, “negociar com o Congresso não é nada, duro mesmo é aguentar o PT e a Gleisi (Hoffmann)”. E é assim que a âncora fiscal começa a efetivamente tramitar, com sete partidos “progressistas” esticando a corda para um lado, o centro e os moderados puxando para o outro, e a oposição se divertindo.
A expectativa é de aprovação da âncora, mas
que âncora? Até agora, com uma receita que exclui o Fundo Amazônia, despesas
que não consideram Bolsa Família e salário mínimo e sem responsabilização em
caso de não cumprimento, na linha de Dilma Rousseff: “Não vamos colocar uma
meta. Vamos deixar em aberto. Quando a gente atingir uma meta, a gente dobra a
meta”.
Se Lula tem bons motivos para não dormir
direito, Bolsonaro tem muito mais: pandemia, atestados falsos de vacina, joias
milionárias da Arábia Saudita, cartão corporativo, depósitos de empresa com
negócios com o governo, toneladas de bisteca não entregues a reservas
indígenas, sem falar a intervenção na PF, na Receita...
O teste de fogo de Bolsonaro será o
confronto entre seu depoimento à PF, hoje, e o do seu ex-ajudante de ordens,
tenente-coronel da ativa Mauro Cid, quinta-feira. Assim como o PT estica a
âncora para um lado e o centro para o outro, Bolsonaro vai dizer que não sabia
nadica de nada sobre as estripulias de Cid e Cid pode dizer o contrário.
Bolsonaro destruiu o futuro de Mauro Cid, que diz que fez tudo por conta
própria ou admite o óbvio, que só cumpria ordens. É o que vai definir entre uma
pena alta ou amenizada.
Os dois depoimentos são sobre atestados
falsos de vacina, mas as digitais do coronel estão por toda a parte também em
quatro investigações: vazamento de inquérito sigiloso da PF em live do
presidente com fake news sobre urna eletrônica; caixa 2 e dinheiro vivo para
pagar contas até de irmão e tia de Michelle Bolsonaro; a determinação em botar
a mão nas joias sauditas.
Bolsonaro diz que não tem a menor ideia de
nada disso. Resta saber se ele ainda tem o poder de transformar um oficial de
grande futuro em um preso e se Mauro Cid mantém a sabujice do então general da
ativa Eduardo Pazuello: “um manda, o outro obedece”. A resistência da família e
o efeito cadeia podem fazer toda a diferença.
Fato.
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