O Estado de S. Paulo
Lula está demorando em jogar seu peso na articulação política
Jair Bolsonaro tornou célebre a expressão
“o poder da caneta Bic” (que trocou de marca conforme as conveniências) para
descrever o que ele considerava ser imensa capacidade de mando do chefe do
Executivo. Era um mau entendimento da natureza do poder do presidente no
sistema de governo brasileiro. Ela reside, na verdade, na capacidade de ditar a
agenda política.
Lula está indo pelo mesmo caminho. Não, não
se trata de desconhecer a realidade do avanço do Legislativo sobre o Executivo,
que Lula admite, mas julgando-se capaz de resolver no “gogó”. Especialmente na
economia, agenda é estabelecer um foco político específico pelo qual o
presidente se empenhe vigorosamente.
Reforma tributária e uma fórmula para tratar das contas públicas foram declaradas prioridades pelo atual governo. São questões intimamente ligadas, especialmente diante da ênfase na receita trazida pelo arcabouço fiscal – portanto, arrecadação em primeiro lugar.
Mas o que faz o presidente? O presidente da
Câmara, Arthur Lira, faz essa pergunta abertamente. Lula deixa o ministro da
Fazenda dizer as coisas sensatas para os agentes econômicos, e libera o PT para
criticar a peça que pretende ver aprovada no Congresso. O empenho pessoal foi
até aqui transformar em questão pessoal (na figura do presidente do Banco
Central) a pesadíssima taxa Selic.
Da mesma maneira, quando se trata do
arcabouço fiscal (destinado, no fundo, a diminuir a relação dívida/PIB), o
empenho político do presidente vai na contramão. “Se precisar de dívida, o
Brasil vai se endividar”, declarou. Reduzir a dívida se endividando?
É na questão da reforma
tributária/arcabouço, porém, que está a verdadeira questão levantada por Lira:
a capacidade de articulação política do presidente é essencial. De novo, não se
trata de compor maiorias com emendas e cargos. Trata-se de dar orientação
política a uma formidável batalha que envolverá interesses antagônicos dos mais
diversos (reforma tributária) e linhas de ações governamentais que significam
escolher prioridades (arcabouço fiscal).
As “agendas” políticas até aqui trouxeram
ao governo maiores dificuldades do que ganhos. A promoção de movimentos como o
MST resultou na instauração de uma CPI considerada perigosa no próprio entorno
de Lula. O empenho político do governo em torno da regulação das grandes
plataformas – independentemente do mérito da questão – demonstrou a dificuldade
em se afirmar no Congresso.
E ainda mal começaram os grandes testes.
Governar o País não é para principiantes!
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