O Estado de S. Paulo
Lula subestimou o tamanho e a natureza das resistências que enfrenta
Lula não se deu conta ou não quer admitir a
falta que faz um EstadoMaior com gente capaz de peitá-lo. É notável a diferença
de inteligência política entre quem ele consultava há 20 anos e o pequeno grupo
atual ao qual empresta seus ouvidos – se é que empresta.
No primeiro mandato seus principais
auxiliares tinham noção muito melhor do grau de resistência social e do grau de
resistência no Legislativo ao presidente e ao PT. Os dois tipos de resistências
aumentaram exponencialmente no período, na evolução de processos e fenômenos
político/sociais já fartamente discutidos.
Mas Lula só parece enxergar – se é que enxerga – a resistência parlamentar. Lula nunca parece ter abandonado a noção de que 300 ou mais picaretas pululam na Câmara, e com os quais sempre soube lidar. Julga que é só operar melhor a concessão de emendas, cargos e ministérios.
Não parece estar funcionando, a julgar
pelos maus resultados recentes no Congresso. Mas a reação de Lula às derrotas é
insistir no lado “operacional” (aplacar as demandas dos parlamentares),
ignorando que o Congresso é hoje, em larga medida, uma expressão da resistência
social ao governo do PT.
Exemplo de onde vem essa resistência estava
na Agrishow. Não, não se trata do confronto pela vitrine política, mas de
valores. Fora do palanque, dezenas de milhares de pessoas participaram de “MBA
a céu aberto” (Marcos Fava Neves) de tecnologia, com enorme quantidade de
participantes de faculdades de ciências agrárias, colégios agrícolas,
cooperativas, associações, sindicatos rurais, numa busca febril por aumento de
produtividade e competitividade.
Os fracassos do governo no Congresso ao
atacar a privatização da Eletrobras e o Marco do Saneamento têm muito mais a
ver com essa “resistência social” do que com a “picaretagem” de parlamentares.
Fora a ofensa aos poderosos chefes das Casas Legislativas ao tentar rever
matérias aprovadas no Congresso.
O mesmo fenômeno está embutido no PL das
Fake News. Sem dúvida é demanda da sociedade por alguma regulação do inferno
das redes sociais. Mas, por extraordinária inépcia política do governo, matéria
de enorme abrangência acabou vista como “bandeira de luta”, sobretudo do PT, e
ferramenta para encurralar o adversário (que leva a dianteira na guerra
digital).
Nesses primeiros meses de governo, Lula
subestimou o tamanho e a natureza das resistências que enfrenta. E superestimou
as próprias virtudes, sabedoria política e poderes. Até aqui o resultado é
enorme dificuldade para governar, correr riscos desnecessários e embicar o País
em mais uma oportunidade perdida.
A extrema-direita está sempre errada.
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