O Globo
Na política, a solidariedade pode vir de
onde menos se espera. Foi o que descobriu ontem a ministra do Turismo, Daniela
Carneiro. Torpedeada pelo União Brasil e prestes a ser demitida do governo
Lula, ela recebeu apoio de deputados do PL.
“A senhora tem aqui um aliado”, disse o
bolsonarista Bibo Nunes. “Cristianismo é levar pedrada, é ser perseguido. Mas a
palavra final vem de Deus”, emendou o pastor Roberto Monteiro, que se referiu à
ministra como “irmã em Cristo”.
Em visita à Câmara, Daniela citou a Bíblia, jurou fidelidade a Lula e disse ser vítima de “machismo estrutural”. Apesar dos esforços, deve perder o cargo nos próximos dias. A ministra não será dispensada pelo que fez ou deixou de fazer no governo. O Planalto avisou que precisa da cadeira para barganhar votos com o União Brasil.
O partido quer a nomeação do deputado Celso
Sabino, ex-apoiador de Jair Bolsonaro. Ele também é ligado a Arthur Lira, a
quem costuma chamar de “amigo irmão”. O chefão da Câmara pertence ao PP, mas
exerce influência sobre um amplo consórcio de legendas do Centrão. O União
Brasil é a principal delas, com 59 deputados.
A troca não garante que o governo terá
todos os votos da bancada. A ideia é reduzir o índice de traição registrado nos
últimos meses. Como Daniela já pediu desfiliação da sigla, sua permanência no
cargo ficou insustentável. Segundo aliados, Lula busca uma “saída honrosa” para
ela e o marido Waguinho.
Na passagem pela Câmara, a primeira-dama de
Belford Roxo pareceu conformada com a queda iminente. “Deus está no controle de
tudo. Nada acontece por acaso”, discursou.
O controle do Ministério do Turismo não
deve saciar a gula do União Brasil. O partido já avisou que também quer
abocanhar as presidências da Embratur e dos Correios. Lira tem um sonho de
consumo mais ambicioso: o Ministério da Saúde. Sua candidata à pasta é a médica
Ludhmila Hajjar — desde que ela se comprometa a dividir tudo com o Centrão.
Pois é.
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