O Globo
Nelson Barbosa, conta que o novo PAC terá mais
projetos de infraestrutura, no entanto, mais agenda de concessões e PPPs que no
passado
O novo plano de investimento que está sendo
preparado pelo governo é diferente dos PACs do passado porque terá um foco
maior em infraestrutura social e ambiental, e mais participação do setor privado,
através de PPPs e concessões. Quem conta é o diretor de investimento do BNDES,
Nelson Barbosa. O BNDES vai captar junto ao BID, ao banco de desenvolvimento da
China e ao banco dos Brics recursos que haviam sido oferecidos ao Brasil e o
governo anterior ignorou. “Somando tudo dá US$ 5 bilhões que estavam na mesa
com taxas competitivas”.
Barbosa, ex-ministro da Fazenda e do Planejamento, afirma que está sendo pensado um “BNDES do futuro”, muito menos dependente de dinheiro do Estado para se financiar. Eu o entrevistei ontem no meu programa na Globonews. Ele está envolvido tanto na preparação do novo PAC, que não terá este nome, quanto em desenhar esse novo BNDES.
— O Brasil está muito bem colocado para o
modelo do desenvolvimento sustentável. Nós temos uma matriz energética com
fontes renováveis com muito potencial. Temos o que em economia chamamos de
“vantagem do atraso”. A gente tem muita coisa a ser feita ainda em termos de
eficiência energética, adaptação das cidades inteligentes, e que podem ter um volume
menor de emissões. Somos uma democracia e isso não é pouca coisa. Uma
democracia que tem um sistema público de educação, de saúde, e uma política de
transferência de renda.
Esta resposta foi dada quando o perguntei
se ele estava otimista com o crescimento de longo prazo. Sobre este ano, o
otimismo está aumentando porque há vários bons indicadores, como tenho
comentado aqui na coluna. Ontem,
o Brasil teve elevação da sua classificação pela agência de risco S&P. O
país ainda está longe do grau de investimento que atingiu nos primeiros
governos Lula, mas o ministro Fernando Haddad considera que é uma questão de
tempo.
Perguntei a Nelson Barbosa se dá para
manter a taxa de crescimento nos próximos anos. Ele acha que tudo depende da
capacidade de investimento do país. O novo plano de investimento terá metas e
projetos de infraestrutura, como teve o PAC, mas, segundo ele explicou, há mais
agenda de concessões e PPPs que no passado. Haverá projetos de concessão de
energia, rodovias, manutenção de hospitais, recuperação de escolas públicas.
Será lançado em breve.
O BNDES já avisou que quer dobrar de
tamanho em termos de desembolso até o fim do atual governo.
– Sair de 1% do PIB para 2%, o que
traduzindo o economês é deixar de ser um banco que empresta R$ 100 bilhões e
voltar a emprestar R$ 200 bilhões como no passado. Temos condição de financiar
mais com taxas de mercado e com taxas reguladas.
Nelson Barbosa contou que o banco agora
está no desafio da captação. Além dos bancos internacionais de desenvolvimento
— e ele faz questão de explicar que o banco dos Brics já oferecia desse financiamento
antes de a ex-presidente Dilma assumir — há também a chance de captação
interna.
—O BNDES é um banco e um banco pode lançar
papéis. A gente já pode lançar letra financeira, só que isso paga imposto. O
Brasil tem dois títulos que não pagam imposto, letra de crédito imobiliário e
letra de crédito agrícola. A gente está propondo que haja também a letra de
crédito do desenvolvimento, para que o banco possa emitir e a pessoa física
investir sem pagar imposto. Com isso, a gente pode investir, e repassar toda a
desoneração para o tomador final. Então, a taxa poderá sair mais baixa, sem
depender do Tesouro. O BNDES andando com as próprias pernas. É o que os bancos
de desenvolvimento fazem em vários países — explica, afirmando que a proposta
será enviada ao Congresso junto com as outras medidas que Haddad está
preparando para melhorar o funcionamento do mercado financeiro, após a
aprovação do arcabouço fiscal.
Segundo Barbosa, de janeiro a maio, os
desembolsos cresceram 14%, ou seja, 9% real, mas as consultas cresceram 200%.
— Então tem muita intenção de investimento,
tem muita empresa procurando o banco, consultando sobre financiamento e
esperando. Acho que, como todo mundo, aguardando uma definição melhor do quadro
econômico, principalmente da taxa de juros, para tomar a decisão de investir.
Por isso, a gente está otimista e acha que dá para recuperar a taxa de
investimento do Brasil, que hoje está em 18%, mas pode ir para 21%. Como foi no
passado.
Na economia está assim, com um bom clima.
Enquanto a política continua enrolada.
Sei.
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