El País /O Globo
Resultado da eleição espanhola veio na ‘contramão
de onda de avanço da extrema direita na Europa e é sinal de alerta sobre o
potencial de mobilização do eleitorado de oposição a pautas e medidas radicais
O revés
para o partido de extrema direita Vox nas eleições legislativas de domingo na Espanha — e a
vitória insuficiente do Partido Popular (PP), de direita moderada — vieram na
contramão da onda ascendente que levou ao poder partidos ultraconservadores,
nos últimos meses, a vários países europeus. O resultado espanhol tem claras
repercussões no tabuleiro político do continente, não só pela ausência de mais
um país de peso nas fileiras da ultradireita, mas também pelo impacto nos seus
dilemas estratégicos.
Um exemplo desse debate ocorreu, neste fim
de semana, com o terremoto político causado pelo líder da União Democrata
Cristã (CDU) alemã, de centro-direita, Friedrich Merz, ao sugerir que poderia
apoiar alianças locais com a legenda de extrema direita Alternativa para
a Alemanha (AfD).
Reações críticas dentro do próprio partido fizeram o líder voltar rapidamente
atrás.
A eleição de domingo descolou a Espanha de uma tendência forte no continente. Em abril de 2022, Viktor Orbán foi reeleito com uma vitória acachapante na Hungria. Em setembro, vieram os êxitos eleitorais do Irmãos da Itália (26%) que botou Giorgia Meloni no cargo de primeira-ministra italiana. Também o Democratas da Suécia (SD) atingiu inéditos 20% de votos. Em abril, foi a vez da ultradireita finlandesa obter outros 20% de votação. Em junho, nas eleições legislativas gregas, três partidos de extrema direita conseguiram representação no Parlamento. Em Portugal, o ultraconservador Chega avançou em relação a resultados anteriores (7%) e a AfD alemã não para de crescer e já empata em intenção de votos com o partido do premier social-democrata, Olaf Scholz.
Na contramão, o Vox espanhol retrocedeu e
caiu de 52 para 33 cadeiras no Parlamento. O PP, de centro-direita avançou, mas
de um modo que não parece ser suficiente para formar governo. A repercussão em
termos de poder é óbvia. Somar a Espanha à lista de países europeus com
governos de distintas matizes ultraconservadoras teria sido um acréscimo de
peso — especialmente com as eleições na União Europeia em vista, em junho do
ano que vem. Também há pleitos previstos, nos próximos meses, na Polônia, Holanda e Bélgica.
A outra consequência, não tão evidente, são
as lições que os atores da “família” ultraconservadora europeia vão tirar dos
resultados. E um dos elementos principais para reflexão de movimentos similares
são as pautas extremistas do Vox e o efeito mobilizador que tiveram para um
eleitorado que não pactua com suas posturas radicais.
— Uma das suas (do Vox) principais
estratégias para conseguir votos é sair da correção política que os partidos
dominantes se autoimpuseram, há tempos. O Vox diz coisas que muitas pessoas
pensam, mas não se atrevem a dizer. Mas esse resultado questiona o seu
radicalismo — comenta Alberto Alemanno, professor titular da cátedra Jean
Monnet de Direito e Políticas Europeias da Escola de Estudos Superiores de
Comércio de Paris
Alemanno, que vive na Espanha, sugere que
se o partido não tivesse radicalizado nos governos regionais que integra —
censurando filmes, proibindo bandeiras do orgulho LGBTQIA+, por exemplo — e
tivesse optado por posturas mais pragmáticas, “ao estilo Meloni”, talvez
pudesse ter se saído melhor.
— A sua posição radical lançou uma mensagem
de alerta que confirmou a narrativa de Sánchez (Pedro Sánchez,
premier socialista espanhol), a ideia de que se chegassem ao poder podiam
desmontar tudo. Foram imaturos. Esta é uma grande lição para este partido e
para todas as direitas europeias — completa.
E esta foi a ultradireita que o PP abraçou,
mesmo sem o fazer explicitamente. O resultado foi um duro lembrete aos líderes
do partido de direita moderada sobre os riscos e limites de se unir a
extremistas.
Graças a Deus!
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