Folha de S. Paulo
Ex-presidente aposta em oposição obsessiva
para preservar monopólio do antipetismo
Tarcísio
de Freitas mostrou aos súditos de Jair
Bolsonaro que o rei estava nu. "Eu acho arriscado para a direita
abrir mão da reforma tributária", disse o governador numa reunião do
PL, ao
lado do ex-presidente.
Os dois buscaram rotas distintas no debate
da reforma tributária. Fiel ao próprio personagem, Bolsonaro escolheu o caminho
da oposição sistemática para atravessar os quatro anos de Lula. Tarcísio
optou por algum verniz ideológico, até para fabricar uma marca que o
diferenciasse, aos poucos, do antigo chefe.
Se a colisão era inevitável, é revelador que ela tenha ocorrido menos de uma semana depois que Bolsonaro foi declarado inelegível. A celeridade da trombada pública entre padrinho e afilhado expõe um campo político tomado por desconfianças patológicas e ambições particulares.
Bolsonaro não precisava partir para o
ataque contra a reforma tributária, uma proposta que nasceu sem
o carimbo da esquerda e que provavelmente seria aprovada com votos de
partidos que eram de sua base aliada pouco mais de seis meses antes.
O ex-presidente, porém, agarrou a primeira
oportunidade que surgiu depois da derrota no TSE para tentar exibir algum poder
de fogo. O objetivo inicial era demonstrar liderança sobre a direita
bolsonarista, evitando um vácuo que poderia ser ocupado por nomes como
Tarcísio.
Bolsonaro também tenta usar o
que chama de "reforma do PT" para preservar um certo
monopólio do antipetismo. Enquanto parte da direita vota com o governo em
algumas pautas (por convicção ou barganha), ele ensaia uma oposição obsessiva,
em busca da credencial de única alternativa genuína a Lula.
Aliados graúdos afirmam que Bolsonaro alimenta
uma ilusão de voltar às urnas e vende a tese sebastianista de que os tribunais
podem rever sua inelegibilidade caso Lula conduza o país a um desastre. É por
isso, dizem esses políticos, que ele quer trabalhar contra o governo, evitar
a nomeação de um sucessor e fechar portas para potenciais
concorrentes. Bolsonaro escolheu Bolsonaro.
Pois é.
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