Folha de S. Paulo
Petista anda com imagem do antecessor no
bolso apesar de inelegibilidade do rival
Nas últimas semanas, Lula chamou Jair
Bolsonaro de titica, gângster, genocida, golpista, insano e outros
insultos. Dias atrás, o petista foi ao congresso da UNE e disse que os
quatro anos do antecessor foram uma amostra do fascismo e do nazismo.
Lula anda com a imagem do ex-presidente no
bolso. O petista mantém a artilharia contra Bolsonaro em palanques, eventos
oficiais e entrevistas. Lança críticas diante de plateias dispostas a fazer
coro, como estudantes e integrantes do MST, e tenta salgar terrenos em torno de
empresários e governantes estrangeiros.
Bolsonaro está fora das próximas eleições,
mas Lula quer preservar o antibolsonarismo como força e medir seus efeitos no
próximo ciclo.
A rejeição a Bolsonaro ajudou Lula a alcançar uma maioria em 2022. Derrotar o capitão e barrar o sonho golpista renovaram o fôlego da militância de esquerda, atraíram eleitores distantes do PT e forjaram uma rede ampla de defesa da democracia.
A intensidade do antibolsonarismo foi
proporcional à ameaça que o então presidente representava. O ponteiro se mexe
com o passar do tempo, a inelegibilidade determinada pelo TSE e os planos da
direita.
Ninguém deveria precisar da ajuda de Lula
para julgar Bolsonaro, mas o petista reage a um processo natural de decantação.
O Datafolha mostrou em
junho que 57% dos brasileiros consideram que o governo do
ex-presidente trouxe benefícios para o país (metade dos mais pobres e 64% dos
brasileiros na faixa intermediária de renda pensam assim).
Além de refrescar a memória do eleitor,
Lula quer testar a capacidade de transferência da rejeição de Bolsonaro para
seus afilhados. Numa cerimônia do governo no início do mês, o presidente cobrou
pressa na conclusão de uma obra e alertou
para o risco de "outra coisa ruim voltar" após o fim de seu
mandato.
Mesmo com a inelegibilidade, o
antibolsonarismo é inevitável porque a direita depende de Bolsonaro em cena.
Além da lembrança do capitão, seu alcance também será determinado pelo
desempenho de Lula.
Devia ter especificado que benefício Bolsonaro trouxe para o País.
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