Valor Econômico
Reforma ministerial busca paz e crescimento
de olho em 2026
Foi o último ato do primeiro semestre e ao
mesmo tempo a primeira imagem do governo Lula em sua última versão.
Sexta-feira, 7 de julho, 17h30. Depois de
ter aprovado na Câmara a reforma tributária e o projeto do Carf, o presidente
recebeu no Palácio do Alvorada as principais lideranças dos partidos que
integram a sua base no Congresso para comemorar.
Estavam lá José Guimarães (PT-CE), Jandira
Feghali (PCdoB-RJ), Aliel Machado (PV-PR), Túlio Gadêlha (Rede-PE), Tabata
Amaral (PSB-SP), Aureo Ribeiro (Solidariedade-RJ) e Luis Tibé (Avante-MG),
representantes de partidos da coligação que derrotou Bolsonaro em 2022.
Também se fizeram presentes comandantes do
triunvirato de centro-direita que embarcou no governo antes mesmo da posse:
Antonio Brito (PSD-BA), Isnaldo Bulhões (MDB-AL) e Elmar Nascimento (União
Brasil-BA).
Mas o que chamou a atenção foi o
comparecimento do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), acompanhado dos
líderes André Fufuca (PP-MA) e Hugo Motta (Republicanos-PB).
Naquele momento selou-se o pacto entre Lula e o Centrão de Lira.
Para o Centrão, são bastante claras as
vantagens de se embarcar no governo. Influência, poder, ministérios, cargos,
indicações de apadrinhados, estatais, orçamento, despesas públicas em seus
redutos eleitorais - todos os elementos que fazem as engrenagens da política
brasileira funcionar no modo “continuidade”.
Do ponto de vista de Lula, porém, os
benefícios de agraciar o PP e o Republicanos com parcelas do poder não são tão
óbvios assim.
É bem verdade que o bloco de apoio do
presidente no Legislativo é frágil. Sua coligação, composta por partidos de
esquerda e centro-esquerda, elegeu em torno de um quarto das cadeiras na Câmara
e no Senado. Mesmo com a aliança formada depois da eleição com MDB, PSD e União
Brasil, ainda não se conseguiu uma base suficiente para se passar com
tranquilidade propostas de mudança constitucional ou medidas tecnicamente mais
complexas.
As vitórias legislativas conseguidas até
aqui se deram por negociações pontuais, feitas caso a caso, tendo Arthur Lira
como fiador e pagas à vista por meio da liberação de bilionárias verbas
orçamentárias.
Ao admitir como sócios os dois principais
partidos do Centrão, PP e Republicanos, Lula teria o apoio formal de 374
deputados, o que em teoria lhe daria condições de aprovar com folga qualquer
norma na Câmara.
Mas atenção para os condicionantes “formal”
e “em teoria” do parágrafo anterior. Como já foi comprovado durante o primeiro
semestre na parceria com MDB, PSD e União Brasil, a concessão de ministérios ao
PP e ao Republicanos não garante a integralidade de seus votos a favor do
governo, por dois motivos.
Em primeiro lugar, nessas legendas há um
grupo significativo de membros antilulistas e até mesmo bolsonaristas que
dificilmente vão aderir. Mesmo feitos esses descontos, contudo, PP e
Republicanos proporcionarão a Lula uma margem confortável para acelerar a
tramitação de PECs e projetos de lei, desde (e aqui entra a segunda
condicionante) que o Palácio do Planalto proponha uma pauta conservadora, de
cunho muito mais econômico do que social.
Com MDB, PSD, União Brasil e agora PP e
Republicanos compondo seu ministério e sendo responsáveis por 63% de sua base
parlamentar na Câmara, medidas de inclusão social ou a reversão de iniciativas
liberais de Temer e Bolsonaro têm baixíssima probabilidade de avançarem.
Se a celebração do acordo com o Centrão
representa a abdicação de qualquer ambição de passar uma agenda progressista no
Congresso, o que Lula ganha ao dar órgãos e estatais para o grupo de Arthur
Lira?
A primeira vantagem é uma espécie de seguro
contra crises. Ter o Centrão abrigado na Esplanada aumenta sua proteção contra
chantagens que se materializam em pedidos de CPIs, pautas-bomba de natureza
fiscal e até mesmo em votações de retrocessos na área social ou ambiental -
vide o caso do marco temporal das terras indígenas.
Além de buscar sossego para governar, a
associação formal com o Centrão também amplia as chances de promoção de medidas
de crescimento econômico no Parlamento. Político experiente que é, Lula aposta
em PIB e emprego em alta para resgatar sua credibilidade junto a parcela
expressiva do eleitorado - principalmente as classes C e D - e, assim, chegar
em 2026 com chances confortáveis de derrotar o bolsonarismo.
Como se sabe, a bancada do Centrão é muito
bem conectada com representantes do agronegócio, da construção civil e de
importantes empresas da indústria e dos serviços. Ao acomodar em seu bloco essa
expressiva bancada empresarial, o governo terá a oportunidade de passar
propostas creditícias, tributárias e regulatórias que estimulem o crescimento a
despeito das limitações do arcabouço fiscal do ministro da Fazenda, Fernando
Haddad, e uma postura ainda conservadora do Banco Central.
A entrada do Centrão no ministério de Lula
é a sua cartada para garantir paz e apoio para uma agenda econômica que almeja
mais quatro anos de Presidência do PT e, se possível, com uma bancada mais
confortável no Congresso.
*Bruno Carazza é professor
associado da Fundação Dom Cabral e autor de “Dinheiro, Eleições e Poder: as
engrenagens do sistema político brasileiro” (Companhia das Letras)”.
Essas relações de Lula com o Centrão são muito carnais ; e muito escondidas por embromação para enganar.
ResponderExcluirOs petistas podem justificar esse conluio com o Centrão como sendo a "Real Política" para cá, a "Real Política" para lá, mas pouco ou nada essas relações têm do estupendo pensador Nicolau Maquiavel:: Maquiavel era um republicano ; estes embustes de Lula nada têm de republicanos.
Estas relações são embustes porque estes namoros do populista com o Centrão não cuidam de buscar uma vida boa para o Brasil, não cuidam de resolver estruturalmente os problemas do Brasil e são apenas artifícios para Lula e os próceres do Centrão terem aprovados mecanismos de gastança e passarem a imagem de que sabem como fazer entregas para o eleitorado. E é verdade que no momento em que está gastando qualquer um passa ideia de sucesso.
O problema é depois, quando o dinheiro que deveria ter sido usado no saneamento dos desequilíbrios econômicos do Brasil e no planejamento do futuro dos brasileiros em geral foi desviado e usado para Lula (e também para Bolsonaro ou qualquer outro esbanjador) e pelos membros do Centrão gastarem para ficar com boa imagem e esse dinheiro começa a fazer falta porque os problemas estruturais não foram resolvidos.
Com o uso do dinheiro para lustrar a imagem destes demagogos e não para resolver os problemas estruturais, até a fome aumenta depois dessas orgias. Aí, é só encomendar uma pesquisa sobre a fome, sem se importar se os números da fome que aparecerem na pesquisa serão exagerados ou subdimensionados, porque a pesquisa não é para estudos e sim para construir narrativas e usar a pesquisa para ficar gritando:: "A fome voltou!" "A fome voltou!
A fome não voltou:: a fome no Brasil nunca tinha ido embora ; o que aconteceu no Brasil de 2019 em diante foi que as consequências que uma pandemia com tanta gravidade como a de Covid-19 causam na economia aumentaram muito os problemas que já existiam, problemas que foram muito agravados a partir do governo Lula2 e que nunca foram resolvidos, ainda mais que o governo Bolsonaro não mostrava maior compromisso e capacidade em minorar as consequência desses problemas nem mesmo diante do caos que causava a doença.
Os dramas que surgem alguns anos depois de conluios e de farras entre demagogos e populistas, como o conluio do Centrão com Bolsonaro e/ou com Lula não são enxergados como consequências das irresponsabilidades de antes e, para garantir que a merda não vai ficar colada em quem cagou, é só fingir que as coisas estão sendo iniciadas e sendo feita agora e os problemas que existem são do passado.
Ocorre que este passado tem causas e seus causadores, e as causas do nosso lastimável passado recente foram vieram pelo conluio de Lula com o Centrão e de Bolsonaro com este mesmo Centrão. E agora estamos vendo este conluio Lula/Centrão sendo renovado, para tristeza do Brasil e desqualificação do exercício da política. E tudo com a cumplicidade de jornalistas outrora maravilhosos no escrutínio desta realidade.
FUI.
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