O Estado de S. Paulo
As vozes independentes, hoje raras no jornalismo, foram quase extintas na política brasileira
Simone Tebet dá um verniz de “frente ampla”
a um governo cada vez mais petista, assim como Sérgio Moro dava um verniz de
combate à corrupção a um governo que cada vez mais sabotava esse combate.
Quando Jair Bolsonaro atropelou o então
ministro da Justiça e trocou o diretor da Polícia Federal por um amigo de
família, Alexandre Ramagem, após manifestar incômodo com investigações sobre
filhos e aliados, Moro deixou o governo, porque não quis responder pelos
eventuais atos de um indicado político naquele contexto.
Quando Lula atropelou a ministra do Planejamento e Orçamento e trocou o presidente do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) por um ideólogo do PT, Marcio Pochmann, que atribui a crise econômica decorrente dos governos e esquemas do partido ao “golpe de 2016”, ao “receituário neoliberal” e à Operação Lava Jato, Tebet ficou na pasta, alegando que não se incomoda em ser a “segunda voz” da dupla sertaneja com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e que “a mídia não me pauta, companheiros não me pautam, pessoas que me acompanharam na campanha não me pautam”.
Moro, que já era odiado pela esquerda por
ter condenado Lula em primeira instância, acabou sendo fritado também pelo
bolsonarismo, com o qual, em 2022, veio a retomar aliança contra a volta do PT.
Tebet, que já é rejeitada por antipetistas
pelo apoio a Lula no segundo turno, recompensado com cargo em seu governo, não
quis ser fritada também pelo lulismo, com o qual mantém aliança em nome do
combate à fome, à desigualdade e à extrema direita.
As vozes independentes, hoje raras no
jornalismo, foram quase extintas na política brasileira, onde parasitar
Bolsonaro e Lula, relevando seus desmandos e apadrinhados negacionistas,
tornou-se o único horizonte de sobrevivência, com perspectiva, mesmo que
remota, de poder.
Bolsonaro premiava na máquina pública quem
pudesse contribuir com blindagens desejadas e atacar a imprensa, enquanto Lula
premia quem normalizou sua relação imobiliária com empreiteiras do petrolão e
pode punir seus desafetos. Já se prefere, porém, ser um Geraldo Alckmin de
Haddad, ou um sub-Tarcísio de Freitas, a confrontar o líder populista de seu
campo, cada qual com um exército de Eduardos Pazuellos, pautado pelo lema “um
manda, outro obedece”.
O sintoma cultural é preocupante, porque os políticos nada mais são que um reflexo caricato do povo. E as sociedades que não têm a independência como um valor, mas, sim, como uma ameaça, são as mais suscetíveis a condescender com as variadas formas de autoritarismo, impostas sob qualquer verniz.
Governo cada vez mais petista? O colunista mente desavergonhadamente! E não é só hoje... Já faz parte do seu estilo.
ResponderExcluirMoro é tão anticorrupção que apoiou Bolsonaro e suas rachaduras expostas em 2022.Conta outra.
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