O Globo
Bolsonaro não tem a capacidade de baixar as
armas e mudar de atitude, enquanto os governadores de Minas, Romeu Zema, e de
São Paulo, Tarcísio de Freitas, sempre foram políticos de direita que não se
aproximaram da radicalização
Em política, é precipitado declarar a morte
de alguém; diz-se até que o fundo do poço tem uma mola. No momento, porém, o
ex-presidente Bolsonaro parece a caminho de um fim de carreira inevitável. Pode
até ser o líder de uma pequena facção radical, mas quase certamente não será o
líder do maior partido do Congresso, o PL, que já tem dono, o ex-deputado
federal Valdemar Costa Neto.
Apesar da recomendação peremptória do
ex-presidente, que primeiro queria fechar questão contra a reforma tributária
e, sem conseguir, depois orientou a bancada a votar contra, 20 deputados do PL
votaram a favor, o que desencadeou uma crise sem precedentes na maior bancada
da Câmara. Para ter ideia da força do partido, com 99 deputados federais, o PL,
mesmo com a dissidência, continuaria à frente do PT, que, com 68 integrantes,
tem a segunda maior bancada.
O primeiro grande racha no partido foi uma reação de um pequeno grupo contra o isolacionismo de Bolsonaro, que relembrou a atitude do PT no início de sua caminhada, quando votava contra qualquer medida do governo tucano, inclusive o Plano Real. O raciocínio dos bolsonaristas hoje é que o PT jamais reconhecerá o apoio de um partido adversário e, portanto, não vale a pena abrir mão de uma oposição radical, que serve para marcar posição.
Os que votaram com o governo, por entender
que a reforma tributária será importante para o país voltar a crescer
economicamente, foram considerados traidores e assim denunciados no grupo de
WhatsApp do partido. Classificados pelos companheiros de radicais, os que
ficaram com Bolsonaro usaram imagens comuns à direita golpista, como
“melancias” (verde por fora, vermelha por dentro).
Não demorou para que houvesse a proposta de
abandonar o partido, o que aumentaria a crise partidária. A solução foi tirar o
sofá da sala: o grupo de WhatsApp foi encerrado. Quem rompeu esse isolamento
estratégico certamente irritou os bolsonaristas, menos pela divergência, mais
por ter enfraquecido uma posição extremada, revelando discordância interna que
significa que há os que consideram ser melhor ficar perto do governo que se
pendurar em um Bolsonaro inelegível. Mas será mesmo que Bolsonaro está morto?
A não ser que o governo Lula venha a ser um
desastre na economia, o que nada indica, me parece que se abriu na votação da
reforma tributária um espaço para os políticos da centro-direita que há muito
não aparecia. Mesmo que a polarização continue sendo útil a Lula e Bolsonaro, o
surgimento de políticos de direita que estejam dispostos a dialogar é um bom
caminho no momento em que o cansaço da radicalização parece tomar conta da
sociedade.
Bolsonaro não tem a capacidade de baixar as
armas e mudar de atitude, enquanto os governadores de Minas, Romeu Zema, e de
São Paulo, Tarcísio de Freitas, sempre foram políticos de direita que não se
aproximaram da radicalização. Pode ser que a política partidária se normalize
com uma oposição civilizada. Não é do feitio de Valdemar Costa Neto buscar uma
radicalização, e, no momento, parece estar satisfeito com um Bolsonaro
fragilizado, mas dono ainda de um eleitorado importante.
Se o centro se ampliar, o PL tem tudo para
vir a ser o grande partido da direita. Bolsonaro liderará um partido de extrema
direita que acabará surgindo dessa divisão entre centro democrático e os
extremos partidários, à esquerda e à direita. Bolsonaro é um político
individualista, que abandona seus liderados pelo caminho. Por isso não
conseguiu montar seu próprio partido quando estava no governo. Nesse caso,
Bolsonaro terá dado vários passos atrás, voltando às suas origens, e
provavelmente não terá ambiente eleitoral para repetir a façanha de 2018.
O governador Tarcísio e principalmente o governador Zema têm sido alvo de muito boicote em sua gestão, boicote feito pela turma "do contra" de sempre, que nunca "acredita" nas políticas dos adversários. Mas a descrença dos grupos "do contra", na verdade, é mais por eles serem hegemonistas e quererem a hegemonia para fazerem sozinhos seus projetos, que quase nunca são projetos adequadamente elaborados e em geral são baseados em crendices ideológicas e em "vontade política".
ResponderExcluirNa boa política mesmo, que é a única saída saudável para organizar uma sociedade e evitar o estabelecimento de um Estado Policial, nisto eles não acreditam!
▪Vamos ver se este processo melhorzinho que estamos vivendo em política a nível federal, embora envolvendo muitos vícios, consiga mudar um pouco essa gente politicamente estreita.
Tomara.
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