O Globo
A desinflação é o início de um círculo
virtuoso, com redução de juros em agosto e cenários de crescimento do PIB em
mais de 2%
A inflação de junho caiu 0,08%, o que
reduziu o acumulado em 12 meses para 3,16%%. Há um ano, a inflação acumulada em
12 meses era de 11,89%. A forte desinflação que houve nesse período é apenas
uma das boas notícias da conjuntura econômica. As previsões são de que o país
crescerá mais do que se imaginava inicialmente e, no começo de agosto, os juros
vão começar a cair, sendo que o primeiro corte pode ser de meio ponto. A queda
da Selic é natural diante da redução forte da inflação, aliás, ela subiu
exatamente para alcançar esse resultado.
Tudo fica mais fácil na economia quando a inflação está sob controle. O começo dessa queda foi artificial, com a retirada de impostos sobre combustíveis fósseis e imposição sobre os estados de redução do ICMS como parte da campanha eleitoral do governo passado. O ministro Fernando Haddad teve que iniciar seus trabalhos na Fazenda tentando corrigir isso em duas frentes. Enfrentou a pressão contra a reoneração, tendo que fazê-la em etapas, e ao mesmo tempo em que negociava uma compensação para os estados.
Haddad precisou afastar temores contra a
sua condução da política econômica, que nasceram da precipitação e do
prejulgamento, antes mesmo de anunciar qualquer decisão. Ao derrotar com fatos
essas análises, ele foi aos poucos ajudando a melhorar as expectativas em
relação à trajetória da inflação. Houve outros fatores como a boa safra de
alimentos, a queda dos preços das commodities, a melhora do cenário
internacional. Mas se ele tivesse errado em suas decisões iniciais certamente o
ambiente seria outro.
Em entrevista ao “Valor”, o ex-ministro
Joaquim Levy disse que o Banco Safra prevê que os juros chegarão ao final do
ano em 11,75%, ou seja, uma queda de dois pontos percentuais nas próximas
quatro reuniões do Copom. O cenário dele é de uma inflação ao fim deste ano em
5%, o Focus já está abaixo disso, e de 3,3% no ano que vem. Levy acha que o
país cresce 2,2% este ano e 2,5% no ano que vem. Acredita que a queda dos juros
vai produzir outras boas notícias, como a renegociação de empréstimos tomados a
taxas maiores. “Só no consignado, esse ‘troco’ pode dar em torno de R$ 50
bilhões. Aí uma coisa puxa a outra. Por isso acho que o consumo, no ano que
vem, pode crescer entre 2,5% e 3%”. Ele considera que virão também os investimentos.
Se esses cenários de crescimento do PIB, de
mais de 2%, se confirmarem será bom para o padrão brasileiro dos últimos anos,
mas muito abaixo do que precisa para recuperar o tempo perdido no país com a
recessão de 2015-2016, a estagnação, pandemia e o mau governo.
A briga no grupo de WhatsApp da oposição
bolsonarista que estourou nos últimos dias é até previsível. O que pode fazer
um grupo sem projeto e que errou tanto quando teve a chance de governar? O
ex-presidente da extrema direita foi trágico na condução da pandemia, elevando
o número de vítimas fatais e foi incompetente também na gestão econômica. A
reforma tributária poderia ter sido aprovada na presidência de Rodrigo Maia na
Câmara, porque havia se formado o mesmo ambiente a favor que foi construído
agora. O que resta ao PL senão ficar brigando no zap?
Agora é hora de o governo estudar bem os
próximos passos. Na entrevista à Natuza Nery no podcast “O Assunto”, do G1,
Fernando Haddad já fala em apresentar a nova etapa da reforma tributária, a do
imposto de renda, antes mesmo de acabar de aprovar a atual. É preciso
consolidar os passos dados. Como em qualquer grande projeto aprovado no
Congresso, sempre aparecem os “jabutis”. Há risco de que um deles tenha sido
essa perigosa abertura para a criação de novo imposto estadual sobre produtos
primários e semielaborados. É preciso expurgar esse tipo de truque do texto, e
evitar quaisquer outras distorções.
Hoje, o ministro Fernando Haddad se
encontra com o senador Rodrigo Pacheco, que já está prometendo que o Senado
dará prioridade à reforma no segundo semestre, aumentando o ritmo de
tramitação. Isso permitiria em meados do segundo semestre o assunto estar
aprovado no Senado. Uma boa notícia.
Outra boa nova do dia é o dado que o IBGE
divulgará, em relação à inflação de junho. O IPCA encerrou o primeiro semestre
tendo superado o surto inflacionário que levou à disparada de juros entre 2021
e 2022. E desinflação é o começo do círculo virtuoso.
Muito bom.
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