O Globo
No momento em que escrevo, Bolsonaro se
assemelha ao aspartame, ambos com muito passado e nenhum futuro. Intitulado
líder da direita brasileira, se encontra encostado como funcionário bem
remunerado do Valdemar; no papel de mau oficial, ainda em liberdade, observa
seus arruaceiros atrás das grades.
Nem muito longe que o esqueçam, nem muito
perto que o comprometam, antigos correligionários saem disfarçadamente da cena
do crime; pé atrás de pé, traçam no chão uma linha de separação, a começar pela
nominação — Bolsonaro seria de extrema direita; eles, como Valdemar, aquele que
paga o salário, ou ainda Ciro Nogueira ou Marcos
Pereira, se dizem apenas de direita.
Seria educativo não fosse balela, a
denominação gritada pelos ex-bolsonaristas: o que é ser direita e extrema
direita? A diferença estaria entre aquele que já fugiu e o que ainda não caiu a
ficha.
Dois momentos recentes, de fato constrangedores pelo mau roteiro, escandem o desabrigo dos extremistas do capitão.
Na primeira cena, encontra-se o ministro
madeireiro, o hoje deputado Ricardo
Salles, em gesticulações apopléticas diante das ponderações de Tarcísio de
Freitas — a direita não pode perder o bonde da reforma, dizia o
governador paulista. Salles, espécie de Carla
Zambelli com calça de tergal, tentava manchar o antigo
companheiro de ministério como um direitista arredio. Tal um jurado de programa
de calouros, com ensaiada indignação, rodava o terninho apertado sem conseguir
argumentar por que todos ali deveriam ser contra a reforma tributária.
Estivesse num palco sério, seria vaiado pelo exagero de esgares, pela voz em
desabalado falsete e pela qualidade do texto em improviso — ideologicamente a
nova proposta tributária é de caráter liberal, jamais aparentada ao perfil de personagens
estatizantes como Dilma
Rousseff e Guido Mantega, de triste memória.
São as contradições forjadas pelo indigesto
subdesenvolvimento do debate político brasileiro. O que parece ser tatu é
abelha; e o que parece ser capitão é um paletó largado no encosto da cadeira.
Um governo visto como de esquerda oferece um embrulho de cepa liberal — o que
poderia ser visto como maturidade econômica, além luta de classes — e se vê eclipsado
pela extrema direita de auditório. É uma incongruência em princípio, mas o
brasileiro, até o momento em que escrevo, já se acostumou a ventríloquos e a
enredos surreais. Haja vista a Michelle.
Na segunda cena, na CPI dos Ataques
Golpistas, os bolsonaristas indolentes se entregam a um deus-dará de insultos e
aleivosias, glossário da incivilidade dicionarizada pelo capitão. Deputados de
retórica de WhatsApp, alavancados por posts homofóbicos e manipuladores da
insegurança pública, oferecem a Deus, Pátria e Família uma reedição, com o
dinheiro dos contribuintes, do culto da porta dos quartéis.
Diante de tamanha inanição ideológica, de
assanhada autoimolação política, percebe-se como o fechamento dos bingos gerou
uma facção desamparada de opções de lazer.
Bem fez Romeu Zema ao
lembrar Benito Mussolini num post revelador de sua crença política. Trouxe à
cena do crime a lembrança dos espancadores de reputação, os histéricos
fascistas que conduziram a Itália ao abismo nazista. Está lá no “Filho do
século”, de Antonio Scurati: na falta de argumentos, gritavam no Parlamento,
ameaçavam as mulheres, levantavam maldições. Até que as hordas de seguidores —
como já aconteceu no Brasil recente — mataram seus desafetos políticos em
discussões de beira de balcão. Deus, Pátria, Família.
Diante de quem incendeia a própria roupa,
os profissionais do Centrão se afastam ao traçar no chão a linha para
identificar o que seria de fato a direita — e não a extrema direita encarnada
por Salles. É uma questão de oportunidade. Valdemar e Ciro sabem somar, dividir
e subtrair (aqui sem ironia); notaram enfim que perderam a eleição com a
máquina na mão; depois de todos os golpes econômicos, se viram derrotados e diante
de uma sociedade que cobra o escândalo dos 700 mil mortos da pandemia. Melhor
virar casaca.
A cena da reunião do PL, com os bozofascistas tentando calar Tarcísio de Freitas, remete ao final da ditadura militar. Diante do impasse trazido pela candidatura de Paulo Maluf, no Colégio Eleitoral, o presidente da Arena, José Sarney, então um governista de quatro costados, rasgou a bandeira e abandonou o barco dos generais. Sua dissidência o levou a compor a chapa com Tancredo Neves, pondo fim a 21 anos de regime autoritário.
CORRIGINDO, MINISTRO BARROSO: NÃO É BOLSONARISTAS; É BOZOFASCISTAS.
ResponderExcluirREPETE COMIGO: BOZOFASCISTAS, B O Z O F A S C I S T A S.
Hisayo, pontua sua frase direito... Não entendi
ResponderExcluirCarácoles!
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