Folha de S. Paulo
Julia Lopes de Almeida, Carmen Dolores,
Chrysanthème, Gilka Machado e Adalgisa Nery renascem nas livrarias
Quando se pensa que a história de uma
literatura já está escrita, protagonizada pelos suspeitos de sempre, surpresas
acontecem. Autores popularíssimos há 100 anos e desde então sepultados voltam
de repente à vida, graças a pequenas e bravas editoras. Com isso, renascem em
letra de forma e nos fazem perguntar por onde andavam. No limbo, claro,
silenciados por cânones literários totalitários.
No caso, são cinco mulheres: as romancistas Julia Lopes de Almeida (1862-1934), Carmen Dolores (1852-1910, pseudônimo de Emilia Bandeira de Mello) e Chrysanthème (1869-1948, pseudônimo de Cecília Bandeira de Mello e filha de Emilia), a poeta Gilka Machado (1893-1980) e a romancista e poeta Adalgisa Nery (1905-80). Exceto Adalgisa, contemporânea delas, mas que só se revelou mais tarde, todas foram ativas e altivas no Rio de 1900 a 1930. E, ao contrário do que se pensa, não sofreram por serem mulheres e escritoras. Não dariam essa confiança aos homens.
Elas não pediam licença para escrever nem
tinham de pagar para publicar. Seus livros eram disputados pelas editoras e
tiravam várias edições. Carmen Dolores era a colunista mais bem paga do país.
Chrysanthème, uma polemista nata. Julia ajudou a fundar a ABL, deixaram-na de
fora e ela nem ligou. Gilka, pelo erotismo de sua poesia, enfureceu os carolas,
um deles Mario de Andrade. E Adalgisa apagou a sombra de maridos como Ismael
Nery e Lourival Fontes. Independentes e privilegiadas, todas lutaram pelo
divórcio, pelo voto feminino e pela educação das mulheres.
Alguns de seus livros estão de novo na
praça. De Julia, "A Falência", "A Intrusa", "A Viúva
Simões". De Carmen, "A Luta" e "Almas Complexas". De
Chrysanthème, "Enervadas". E, de Gilka, sua "Poesia
Completa", assim como a de Adalgisa, "Do Fim ao Princípio".
O Brasil dos anos 1920 podia ser um atraso.
Mas elas não eram. Esses livros permitem tirar a prova.
Muito bom.
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