O Globo
Mais cedo, hacker mostrou a bolsonaristas
que foi má ideia insistir na CPI do Golpe
O depoimento de Walter Delgatti Neto
mostrou aos bolsonaristas que não foi boa ideia insistir na CPI do Golpe. O
hacker acusou o ex-presidente de encarregá-lo de montar uma arapuca contra a
Justiça Eleitoral. De quebra, disse que o capitão mandou grampear o telefone do
ministro Alexandre de Moraes.
As palavras de Delgatti não podem ser tomadas pelo valor de face. Ele é um criminoso preso, com passagens anteriores por estelionato e falsidade ideológica. Mas já tinha essa folha corrida quando Bolsonaro reservou duas horas para recebê-lo no Palácio da Alvorada.
O capitão não buscava um santo. Procurava
gente disposta a ajudá-lo numa tramoia para melar a eleição. O hacker já estava
no bolso da deputada extremista Carla Zambelli. E o ex-presidente, assombrado
pela iminência da derrota, fazia ataques diários ao sistema eletrônico de
votação.
Delgatti descreveu um plano rocambolesco.
Deveria programar uma urna fake para sustentar que era possível fraudar a
eleição. A farsa seria encenada no 7 de Setembro, diante de uma massa que
urrava por golpe e ditadura. Parece absurdo, mas combina com as trapalhadas de
Bolsonaro e seus aloprados.
O hacker também disse ter recebido
garantias para cometer outro crime. Se ele assumisse a autoria do grampo contra
Moraes, seria perdoado com um indulto presidencial. Depois do que o capitão fez
por Daniel Silveira, fica difícil duvidar.
O depoimento deixou os bolsonaristas
atordoados. Sergio Moro chamou Delgatti de “bandido” e “estelionatário
profissional”. Pode ser, mas foi ele quem revelou as trapaças do ex-juiz em
Curitiba. Damares Alves disse que o hacker “não tem credibilidade”. Faltou
explicar por que o ex-presidente pediu sua ajuda às vésperas da eleição.
Os bolsonaristas pensavam que a CPI seria
um espaço seguro para produzir factoides e cortinas de fumaça. Ontem a comissão
virou palco para uma delação explosiva, com transmissão ao vivo na TV.
O dia terminou com uma notícia ainda pior
para Bolsonaro. O ex-ajudante de ordens Mauro Cid dirá à Justiça que agiu a
mando dele ao vender um Rolex roubado da Presidência. Se a confissão se
confirmar, o capitão ficará mais próximo de fazer companhia ao tenente-coronel
no xadrez.
Pois é.
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