Folha de S. Paulo
Acusação formal contra ex-presidente por
envolvimento na trama golpista é uma questão de tempo
Um capítulo importante das investigações
sobre os ataques de
8 de janeiro mira a conspiração que era operada dentro dos
palácios e gabinetes do governo Jair
Bolsonaro. A armação para abalar a credibilidade das eleições e
criar turbulências deve render ao ex-presidente e seus auxiliares uma acusação
formal por envolvimento na trama golpista.
Bolsonaro exibia parte da farsa à luz do dia. Contava mentiras em palanques, usava a TV estatal para espalhar informações falsas sobre as urnas e acionava as Forças Armadas para intimidar os tribunais. Em comícios, sugeria cancelar as eleições, dizia que havia fraude nas votações e estimulava uma reação de apoiadores a uma eventual derrota.
A Polícia Federal já havia desmanchado a
versão fantasiosa de que o ex-presidente só tinha interesse em aperfeiçoar o
sistema de votação. A desconfiança plantada sobre o TSE foi
usada como pretexto em documentos que determinavam uma intervenção militar e a
anulação da eleição para favorecer Bolsonaro.
Coube a um personagem improvável apresentar
outros fios que fariam parte dessa teia. Walter Delgatti pode
até ser um nome pouco confiável, mas entrou na casa de Bolsonaro a convite do
então presidente. A simples existência de uma negociação entre os dois no ano
eleitoral, confirmada por ambos, reforça a existência de um complô.
Já se sabia que Delgatti havia se
encontrado com Bolsonaro no Palácio da Alvorada no ano passado. Segundo o
hacker, o então presidente queria saber se ele conseguiria invadir as urnas
eletrônicas. Agora, ele afirma que Bolsonaro também falava em grampear
ilegalmente Alexandre de
Moraes e que sua campanha planejava forjar uma
urna fraudulenta.
Os relatos aprofundam os indícios de que o
grupo do ex-presidente recorreu a atividades criminosas para alimentar os
ânimos golpistas. Delgatti diz ter provas de suas declarações, e a PF vai atrás
dessas histórias. O avanço das investigações faz com que a responsabilização do
ex-presidente seja uma questão de tempo.
Verdade.
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