Folha de S. Paulo
Perdeu-se a arte de bater carteiras e
desaprendemos a aplaudir sentados, mas está de volta o estrogonofe
Começou há algumas semanas, quando me gabei de ter sido um grande chutador de tampinhas, daquelas de refrigerante, soltas nas calçadas. Dias depois, um leitor perguntou se eu era capaz de dar o piparote com o sapato na borda da tampinha, fazê-la subir e matá-la no peito do pé. Humilhado, tive de confessar que não. E, agora, outro leitor, para meu opróbrio supremo, escreve para dizer que no peito do pé era fácil ---ele queria ver era se o sujeito fazia, como ele, a tampinha pousar no lado do pé. Tudo isto porque observei que, por falta das próprias, ninguém mais chuta tampinhas pelas ruas.
Muita coisa deixou de existir por falta de
matéria-prima. Por exemplo, ninguém mais escorrega em cascas de banana.
Continua a chover, mas não se usam mais galochas. Ninguém mais cheira rapé ou
sopra chicletes de bola. Ninguém mais usa boina, só boné, e, mesmo assim, ao
contrário. Artigos de primeira necessidade como o pote de goma arábica, o
mata-borrão e a espátula para abrir cartas deixaram de existir. Ninguém mais
lambe selos para pregar no envelope. Eu próprio há anos não lambo um selo e não
escrevo ou recebo uma carta.
Velhos hábitos desapareceram.
Desaprendemos, por exemplo, a aplaudir sentados. Qualquer showzeco nota 3, se
aplaudido, é hoje aplaudido de pé. Em breve, teremos de plantar bananeiras para
premiar uma performance verdadeiramente genial. E perdeu-se de vez a arte de
bater carteiras. Os atuais meliantes não se valem mais de dedos leves e hábeis
para subtraí-las de nossos bolsos. Vão direto de trabuco no nariz, até porque,
com o celular e o pix, já quase
não se usam carteiras. .
Em compensação, coisas há muito dadas como
extintas estão voltando espetacularmente. Uma delas é o bigodinho, fora de moda
há uns 70 anos. Os garotos voltaram a jogar bafo com as figurinhas. E até o
estrogonofe voltou.
Mas preocupante mesmo é a volta do nazismo.
DE DOER DE RIR
ResponderExcluirE COMO DÓI!
Verdade,como dói!
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