sexta-feira, 25 de agosto de 2023

Vera Rosa - Embaixada terá registro de cooperação com Pinochet

O Estado de S. Paulo

Uma comitiva de amigos que se refugiaram no Chile durante a ditadura militar embarcará para Santiago, nos próximos dias, para revisitar a história. Em 11 de setembro, o golpe que derrubou Salvador Allende completa 50 anos e será lembrado pelo grupo com uma homenagem aos seis brasileiros ali assassinados.

O governo Lula concordou com a instalação de uma placa na embaixada do Brasil informando que, em 1973, “muitos foram presos e torturados pelas forças golpistas, com a participação de agentes da repressão brasileira”. A inscrição termina assim: “No Brasil e no Chile, Ditadura Nunca Mais”.

A homenagem trará os nomes de Jane Vanini, Luiz Carlos de Almeida, Nelson de Souza Khol, Nilton da Silva, Túlio Quintiliano Cardoso e Wâb0anio José de Matos, mortos após o golpe liderado pelo general Augusto Pinochet. “Não os esqueceremos”, diz o texto.

Batizado de Viva Chile!, o grupo é composto por cerca de cem pessoas. Embora a comitiva tenha acertado programações com o Itamaraty, a viagem não tem patrocínio e será bancada com recursos próprios. “É uma ação entre amigos”, disse Ricardo Azevedo, que militou na Ação Popular (AP) e ficou detido um mês, aos 24 anos, no Estádio Nacional de Santiago. A ideia de organizar a caravana surgiu dele.

À época dirigente da AP, o ex-senador José Serra (PSDB) também viveu em Santiago naqueles anos de terror. “Apesar de procurado, pegava refugiados, levava para a casa dele ou para alguma embaixada”, contou Azevedo. Serra foi convidado, mas não pode viajar por causa de um tratamento médico.

‘E AGORA?’. O ex-governador do Amapá João Capiberibe (PSB) era da Ação Libertadora Nacional (ALN), de Carlos Marighella, quando conseguiu chegar ao Chile. Foi na véspera do Natal de 1971. Tudo corria bem até que a Junta Militar comandada por Pinochet assumiu o poder. Capiberibe tinha 24 anos e Janete, sua mulher, 22. “Eu e a Janete tínhamos três crianças de colo. Foi um trauma, um golpe quase mortal em nossas vidas”, relatou o ex-governador. “A gente já tinha escapado do golpe no Brasil, do golpe na Bolívia e se perguntava: ‘E agora?’.”

Capiberibe descreveu uma “caça implacável” aos estrangeiros, incentivada pela Junta Militar. “O golpe no Chile foi financiado pelo Brasil. O DOI-Codi foi para dentro do Estádio Nacional interrogar os brasileiros presos.”

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