O Estado de S. Paulo
Uma comitiva de amigos que se refugiaram no
Chile durante a ditadura militar embarcará para Santiago, nos próximos dias,
para revisitar a história. Em 11 de setembro, o golpe que derrubou Salvador
Allende completa 50 anos e será lembrado pelo grupo com uma homenagem aos seis
brasileiros ali assassinados.
O governo Lula concordou com a instalação
de uma placa na embaixada do Brasil informando que, em 1973, “muitos foram
presos e torturados pelas forças golpistas, com a participação de agentes da
repressão brasileira”. A inscrição termina assim: “No Brasil e no Chile,
Ditadura Nunca Mais”.
A homenagem trará os nomes de Jane Vanini, Luiz Carlos de Almeida, Nelson de Souza Khol, Nilton da Silva, Túlio Quintiliano Cardoso e Wâb0anio José de Matos, mortos após o golpe liderado pelo general Augusto Pinochet. “Não os esqueceremos”, diz o texto.
Batizado de Viva Chile!, o grupo é composto
por cerca de cem pessoas. Embora a comitiva tenha acertado programações com o
Itamaraty, a viagem não tem patrocínio e será bancada com recursos próprios. “É
uma ação entre amigos”, disse Ricardo Azevedo, que militou na Ação Popular (AP)
e ficou detido um mês, aos 24 anos, no Estádio Nacional de Santiago. A ideia de
organizar a caravana surgiu dele.
À época dirigente da AP, o ex-senador José
Serra (PSDB) também viveu em Santiago naqueles anos de terror. “Apesar de
procurado, pegava refugiados, levava para a casa dele ou para alguma
embaixada”, contou Azevedo. Serra foi convidado, mas não pode viajar por causa
de um tratamento médico.
‘E AGORA?’. O ex-governador do Amapá João
Capiberibe (PSB) era da Ação Libertadora Nacional (ALN), de Carlos Marighella,
quando conseguiu chegar ao Chile. Foi na véspera do Natal de 1971. Tudo corria
bem até que a Junta Militar comandada por Pinochet assumiu o poder. Capiberibe
tinha 24 anos e Janete, sua mulher, 22. “Eu e a Janete tínhamos três crianças
de colo. Foi um trauma, um golpe quase mortal em nossas vidas”, relatou o
ex-governador. “A gente já tinha escapado do golpe no Brasil, do golpe na
Bolívia e se perguntava: ‘E agora?’.”
Capiberibe descreveu uma “caça implacável” aos estrangeiros, incentivada pela Junta Militar. “O golpe no Chile foi financiado pelo Brasil. O DOI-Codi foi para dentro do Estádio Nacional interrogar os brasileiros presos.”
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