Folha de S. Paulo
Tanto podem incitar golpes de Estado como
manipular e apagar imagens
Autorizado pelo ministro Cristiano
Zanin, do STF,
o ex-comandante da Polícia
Militar do Distrito Federal Fábio Augusto Vieira ficou em silêncio
durante seu depoimento à CPI do 8 de Janeiro. Chefe da corporação na data dos
ataques à praça dos Três Poderes, ele não conseguiu, contudo, esconder a cara
de tacho.
Vieira —que está preso— é investigado pelos crimes de abolição violenta do Estado democrático de Direito, golpe de Estado, dano qualificado, deterioração de patrimônio tombado e por infringir a lei orgânica e o regimento interno da PM. A Polícia Federal aponta que a PMDF se omitiu em relação aos ataques. Em mensagens de zap, oficiais em postos de comando espalharam desinformação sobre o sistema eleitoral e incitaram as invasões. Um grupo de policiais se escondeu no banheiro em meio à depredação do STF. Eis uma vergonha digna de se contar aos netinhos.
As investigações vão dizer até que ponto o
governador Ibaneis Rocha e o ex-secretário de Segurança Pública Anderson Torres
tinham conhecimento dos planos de seus subordinados. A sensação é de que hoje
as PMs agem —no Rio Grande do Sul, Bahia, São Paulo e outros estados— com uma
independência sem freios, um modelo próprio e brutal. A insubordinação não
isenta de culpa os governadores. Estes quase sempre defendem e incentivam os
policiais ou lhes passam a mão na cabeça.
O caso do Rio de Janeiro é exemplar. Um
capitão da PM está sendo investigado por autorizar uma operação ilegal, com
carro e drone particulares, na Cidade de Deus. O voluntarismo resultou na morte
de um adolescente de 13 anos.
Um documento da Defensoria Pública do Rio
indica que a PM vem tentando dificultar os registros das câmeras corporais, principalmente
quando as ações acabam em mortes. As câmeras são desacopladas dos uniformes e
as lentes, obstruídas. Imagens teriam sido manipuladas ou apagadas. Quem manda
na polícia?
Que confiança a população pode ter numa instituição que não é controlada? Entre tantos outros problemas, o DESgoverno Bolsonaro gestou também este estímulo à violência e ao descontrole das atividades policiais. Bolsonaro não criou o problema, mas estimulou seu crescimento como nenhum outro governante anteriormente. E, no primeiro terço do seu mandato, com a cumplicidade do incompetente ex-ministro Sergio Moro, que tinha carta branca pra atuar na Segurança Pública... E nada fez de útil.
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