Folha de S. Paulo
Processo contra autores dos ataques talvez
seja uma etapa simples antes de responsabilizar incitadores
O STF começa a
julgar os primeiros réus dos ataques
de 8 de janeiro. Não deve ser um trabalho muito difícil. Nenhum dos
acusados invadiu o Planalto ou o Congresso para fazer turismo cívico. O objetivo
da multidão, derrubar o governo, estava expresso em convocações, pintado em
faixas e estampado em camisetas.
O julgamento aberto nesta quarta (13) marca o que pode ser, na prática, a criação de uma jurisprudência antigolpista. As leis estabelecem penas claras para quem tenta depor um governo. O tribunal vai determinar o alcance e o tamanho das punições.
A maior parte dos golpistas agiu à luz do
dia porque acreditava que sairia ilesa. Alguns deles provavelmente acreditavam
que o ataque seria bem-sucedido e que, no dia seguinte, haveria 11 generais
igualmente golpistas no STF para acobertá-los. Outros tantos certamente achavam
que, fracassado o ataque, não haveria disposição das autoridades para processar
uma multidão.
(Um terceiro grupo possivelmente via o
risco de prisão como consequência de um ato de heroísmo, mas os tribunais,
sozinhos, não dão conta desse tipo de delírio.)
Punir os autores dos ataques é um capítulo
essencial para conter a circulação de teses golpistas, turbinada nos últimos
anos pela máquina pública. A condenação de invasores certamente não vai
eliminar os desejos autoritários de uma parcela considerável da população, mas
deve deixar claro que a democracia não tolera conspirações dessa natureza.
O desafio do STF é aplicar punições justas
de acordo com a conduta de cada réu. Para isso, há elementos de sobra de que os
invasores tinham um propósito claro e que os ataques não foram um surto de
arruaça da terceira idade ou um mero protesto de
eleitores descontentes.
Essa talvez seja a parte mais simples do
processo. O tribunal ainda precisa enfrentar a tarefa de responsabilizar
aqueles que incentivaram a corrosão da confiança no sistema eleitoral e
operaram uma estrutura de desinformação em busca da manutenção do poder.
.
É.
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