quinta-feira, 28 de setembro de 2023

Bruno Boghossian - O baculejo do centrão

Folha de S. Paulo

Presidente topa queda de braço em torno de cargos para não abrir mão de muito poder de uma vez só

O Planalto foi palco de uma cena explícita de pressão política. Depois de um evento na terça (26), parlamentares do PSD cercaram Alexandre Padilha para cobrar o controle da Funasa e a liberação de uma verba travada pelo Ministério da Saúde.

"Se a gente dançar, a ministra vai dançar também", ameaçou a deputada Laura Carneiro (PSD), que caprichou no linguajar ao se referir a Nísia Trindade. No dia seguinte, Padilha tentou fazer graça, mas acabou reforçando o desconforto. "Eu sei que vocês ficaram chocados com o baculejo que eu recebi ontem", declarou. "Vocês não têm ideia do que eles fazem comigo a portas fechadas."

Nove meses e uma reforma ministerial depois, Lula continua numa relação instável com sua base. O apetite dos partidos que fecharam negócio com o governo antes da posse e o acordo tardio com o centrão submetem o presidente a uma insegurança permanente.

Ainda que tenha interesse na aliança para sustentar o governo, Lula parece disposto a enfrentar uma queda de braço para não abrir mão de muito poder de uma vez só. Nas últimas semanas, o presidente escolheu a negociação pelo comando da Caixa para marcar essa posição.

A entrega do banco ao grupo de Arthur Lira (PP) estava prevista nas discussões com o centrão, mas Lula segurou o negócio. Há pouco mais de dez dias, o presidente da Câmara mandou um recado quando disse à Folha que o acordo daria conforto ao governo nas votações da Casa e apontou que o controle da Caixa fazia parte daquele acerto.

Lula ouviu o baculejo de Lira, mas manteve o freio puxado. O petista afirmou na segunda (25) que não está "disposto a mexer com nada" e insinuou que pode manter a Caixa como está até o fim do ano.

O impasse é fruto da desconfiança mútua entre Lula e Lira. O Planalto segura os cargos porque ainda quer saber se os partidos vão entregar os votos que prometeram, enquanto o presidente da Câmara aperta a pauta de votações no plenário até que o centrão esteja abastecido.

 

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