O preço do petróleo tem subido sem parar desde que Arábia Saudita e Rússia anunciaram no início do mês que vão manter seus cortes de produção até pelo menos o final do ano. Já vinham subindo. No vale recente de 27 de junho, o barril do tipo Brent custava perto de US$ 73. Nesta terça-feira, perto de US$ 95, uns 30% mais caro, valor mais alto desde novembro do ano passado.
Nos Estados Unidos e na União Europeia, já se discute o quanto tal aumento vai dificultar o controle da inflação. E aqui?
No mercado americano que nos interessa, o preço da gasolina aumentou uns 7% desde 26 de junho, em dólares (9%, em reais); o do diesel, 24% em dólares e 26% em reais. As várias contas de defasagem do preço brasileiro de derivados sugerem que a gasolina estaria entre 9% e 13% abaixo do preço internacional relevante para o mercado brasileiro; o diesel, cerca de 13% abaixo.
Não quer dizer que o surto recente de preços de petróleo ou de derivados vá chegar por aqui, até porque não sabemos bem qual a política de reajuste da Petrobras e quanta política pode vir a haver na definição de preços da empresa. O mais recente reajuste de gasolina e diesel da Petrobras aconteceu em 16 de agosto. Difícil acreditar que vão mexer de novo tão cedo.
Entretanto, esse encarecimento do petróleo faz lá estragos em várias frentes.
Uma inflação mais alta por mais tempo teria algum impacto na taxa básica de juros dos EUA e da União Europeia. Em princípio juros americanos mais altos fortalecem o dólar (enfraquecem as demais moedas, da rupia ao real), tudo mais constante. Um refresco no preço do dólar e nas taxas de juros por aqui também depende, em parte, de juros e inflação americanas.
Além dos cortes de produção saudita e russo, o petróleo está mais caro porque a economia mundial não esfriou tanto quanto se previa e o consumo está maior do que o previsto, em especial na China. Enfim, os estoques estão relativamente baixos.
A importação chinesa de petróleo no primeiro semestre aumentou 12% em relação à média do ano passado (dados compilados pela Bloomberg com base em números da alfândega chinesa), mais 2 milhões de barris por dia. Apenas do Brasil, a importação aumentou 49% no primeiro semestre (em relação à média diária de 2022): de 510 mil barris para perto de 760 mil. No mais, a China está comprando mais petróleo da Rússia, do Irã e dos sauditas. Brics Plus.
Por falar nos aliados brasileiros do "Sul Global", o preço do petróleo russo tipo Urais chegou a uns US$ 78 —o "teto" ocidental para o produto da Rússia é de US$ 60. O Urais ainda está muito abaixo do Brent (pouco antes da guerra, estava uns US$ 2 abaixo). Mas é mais renda para o governo de Vladimir Putin.
A Arábia Saudita precisa de dinheiro para bancar seu programa de diversificação econômica, mas não apenas. Não está lá em boas relações com o "Ocidente".
"Petróleo a US$ 100" causa sensação. A conversa aparece em relatórios e jornais financeiros do mundo rico. "Próximo desafio do Fed: petróleo a US$ 100", escrevia o Wall Street Journal em um título da manhã desta terça-feira. O Fed é o Banco Central americano. O "desafio" é baixar a taxa de juros tão cedo quanto possível. Vai demorar.
Como bem se sabe, mesmo os chutes informados sobre o preço do barril são muito ruins. Até agosto, o mercado parecia tranquilo e estável, diziam entendidos. Por ora, não há previsão de disparada adicional de preços. Um estrago, porém, já foi feito. No Brasil, no momento, podemos ver apenas o lado melhor da notícia —a renda com petróleo deve aumentar (para o governo também). A dúvida é saber qual vai ser o efeito nos preços dessa nova contradança entre governo, PT e Petrobras.
Pois é.
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