terça-feira, 24 de outubro de 2023

Andrea Jubé - Volta de Lula joga luz sobre ministros em alta

Valor Econômico

Simone Tebet tem sido elogiada pelo empenho, lealdade e estilo “low profile”

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva havia encomendado aos auxiliares um megaevento para marcar o seu retorno ao Palácio do Planalto três semanas após a cirurgia para colocar uma prótese no quadril, e a blefaroplastia, que retirou o excesso de pele nas pálpebras. Lula queria proclamar, em grande estilo, que voltou com fôlego renovado e disposição para pilotar o governo.

“Eu estou de volta”, comemorou, em transmissão ao vivo do Palácio da Alvorada. Lembrou que a cirurgia completou 21 dias, permitindo seu retorno aos despachos presidenciais. Para viajar de avião, todavia, ainda terá de esperar mais seis a oito semanas, dado o risco de trombose. Do contrário, admitiu a interlocutores, gostaria de viajar para o Amazonas ou Pará, a fim de visitar as regiões devastadas pela seca na Amazônia.

Para atender o presidente, o ministro da Casa Civil, Rui Costa, e a equipe do chefe de gabinete, Marco Aurélio Santana Ribeiro, o Marcola, investiram em um dos programas mais caros a Lula, e vitrine eleitoral do PT: o Minha Casa, Minha Vida (MCMV).

Optaram por um formato já explorado por gestões anteriores de Lula e da ex-presidente Dilma Rousseff: solenidades de entregas de residências simultâneas, em vários Estados. Em cada cerimônia, a presença do governador, de um ministro representando o governo, de políticos aliados, além dos beneficiários.

Em dezembro de 2015, deflagrado o processo de impeachment, Dilma estava preocupada em turbinar sua popularidade. Ela e seu time de ministros protagonizaram uma megaprodução, com a entrega simultânea de mais de 10 mil casas em seis Estados.

Para marcar a volta de Lula, Costa e a equipe de Marcola organizaram a entrega simultânea de 1.651 unidades da faixa 1, beneficiando mais de 6 mil pessoas em quatro Estados. A faixa 1 do MCMV, que atende famílias com renda mensal de até R$ 2.640,00, havia sido abandonada pela gestão de Jair Bolsonaro, e foi retomada pelo atual governo.

Três Estados foram palcos das solenidades: Alagoas, Bahia e Espírito Santo. O ministro do Empreendedorismo, Márcio França (PSB), apareceu em vídeo gravado na sexta-feira, quando entregou 480 residências no município de São Vicente, no Estado de São Paulo, seu reduto eleitoral.

Para viabilizar a participação de Lula dos atos, foi feita uma transmissão ao vivo do Palácio da Alvorada. O ministro das Cidades e coordenador do MCMV, Jader Filho (MDB), ficou em Brasília para acompanhar as solenidades ao lado de Lula na residência oficial.

Além da finalidade de imprimir uma aura de realização de governo à volta de Lula ao Planalto, o combo de solenidades do MCMV jogou holofotes sobre alguns dos ministros que caíram nas graças do presidente nos quesitos dedicação ao trabalho e lealdade: Rui Costa, Jader Filho, Simone Tebet (Planejamento) e Renan Filho (Transportes).

Sem mandato eletivo, Jader Filho foi o quadro avalizado pelos deputados federais do MDB para representar a cota da bancada na Esplanada. O nome dele foi apresentado pelo governador do Pará, Helder Barbalho (MDB), e chancelado pelos emedebistas, num cenário em que 9 dos 45 deputados da legenda são paraenses.

Empresário, Jader Filho surpreendeu ao conciliar capacidade de trabalho e traquejo político. Nomeou deputados para postos-chave na pasta: Hildo Rocha (MDB-MA) para a secretaria-executiva, e o ex-líder Leonardo Picciani (MDB-RJ) para a secretaria de Saneamento Ambiental. Abriu diálogo com parlamentares, prefeitos e governadores de todos os partidos.

Os números da pasta fizeram Lula sorrir. A meta do MCMV para este ano é contratar 450 mil unidades, e até agora, já foram firmados 350 mil contratos. O ministério já entregou 12 mil residências, e pretende fechar o ano com 21 mil chaves entregues aos beneficiários, bem como retomar 30 mil obras paralisadas.

Também chamou a atenção a presença de Simone Tebet na solenidade de entrega de 537 casas em Aracruz, ao lado do governador do Espírito Santo, Renato Casagrande (PSB).

Ela foi convidada pelo gabinete da Presidência para representar o governo ao lado de Casagrande. Uma demonstração singular de prestígio com o presidente Lula. O presidente confidenciou a interlocutores que Simone foi uma de suas gratas surpresas. Ela tem sido elogiada pelo empenho, lealdade e estilo “low profile”. Quando foi nomeada, havia o temor, principalmente entre petistas, que ela disputasse holofotes com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Mas ela se revelou uma jogadora leal, impôs-se pela competência e ganhou respeito no espaço delimitado que lhe foi oferecido - reduzido porque atribuições da pasta foram remanejadas para o Ministério da Gestão e Inovação, de Esther Dweck.

Uma interlocutora da ministra lembrou que nas plenárias do Plano Plurianual (PPA), conduzidas por Tebet, a pauta da moradia foi muito forte, e na maioria das vezes, levada por mulheres.

No ato, Tebet não poupou loas a Lula. Lembrou que ao convidá-la para o ministério, pediu que ela garantisse o poder de compra da população. “Ele [Lula] disse pra mim, que sou ministra do Orçamento, que todos os anos, o salário mínimo tem que subir acima da inflação porque é a forma do povo ter dignidade”. Depois de ser ovacionada, ela ainda puxou o coro “Olê, olê, olá, Lula, Lula”.

 

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