Valor Econômico
Simone Tebet tem sido elogiada pelo empenho,
lealdade e estilo “low profile”
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva havia
encomendado aos auxiliares um megaevento para marcar o seu retorno ao Palácio
do Planalto três semanas após a cirurgia para colocar uma prótese no quadril, e
a blefaroplastia, que retirou o excesso de pele nas pálpebras. Lula queria
proclamar, em grande estilo, que voltou com fôlego renovado e disposição para
pilotar o governo.
“Eu estou de volta”, comemorou, em transmissão ao vivo do Palácio da Alvorada. Lembrou que a cirurgia completou 21 dias, permitindo seu retorno aos despachos presidenciais. Para viajar de avião, todavia, ainda terá de esperar mais seis a oito semanas, dado o risco de trombose. Do contrário, admitiu a interlocutores, gostaria de viajar para o Amazonas ou Pará, a fim de visitar as regiões devastadas pela seca na Amazônia.
Para atender o presidente, o ministro da Casa
Civil, Rui Costa, e a equipe do chefe de gabinete, Marco Aurélio Santana
Ribeiro, o Marcola, investiram em um dos programas mais caros a Lula, e vitrine
eleitoral do PT: o Minha Casa, Minha Vida (MCMV).
Optaram por um formato já explorado por
gestões anteriores de Lula e da ex-presidente Dilma Rousseff: solenidades de
entregas de residências simultâneas, em vários Estados. Em cada cerimônia, a
presença do governador, de um ministro representando o governo, de políticos
aliados, além dos beneficiários.
Em dezembro de 2015, deflagrado o processo de
impeachment, Dilma estava preocupada em turbinar sua popularidade. Ela e seu time
de ministros protagonizaram uma megaprodução, com a entrega simultânea de mais
de 10 mil casas em seis Estados.
Para marcar a volta de Lula, Costa e a equipe
de Marcola organizaram a entrega simultânea de 1.651 unidades da faixa 1,
beneficiando mais de 6 mil pessoas em quatro Estados. A faixa 1 do MCMV, que
atende famílias com renda mensal de até R$ 2.640,00, havia sido abandonada pela
gestão de Jair Bolsonaro, e foi retomada pelo atual governo.
Três Estados foram palcos das solenidades:
Alagoas, Bahia e Espírito Santo. O ministro do Empreendedorismo, Márcio França
(PSB), apareceu em vídeo gravado na sexta-feira, quando entregou 480
residências no município de São Vicente, no Estado de São Paulo, seu reduto
eleitoral.
Para viabilizar a participação de Lula dos
atos, foi feita uma transmissão ao vivo do Palácio da Alvorada. O ministro das
Cidades e coordenador do MCMV, Jader Filho (MDB), ficou em Brasília para
acompanhar as solenidades ao lado de Lula na residência oficial.
Além da finalidade de imprimir uma aura de
realização de governo à volta de Lula ao Planalto, o combo de solenidades do
MCMV jogou holofotes sobre alguns dos ministros que caíram nas graças do
presidente nos quesitos dedicação ao trabalho e lealdade: Rui Costa, Jader
Filho, Simone Tebet (Planejamento) e Renan Filho (Transportes).
Sem mandato eletivo, Jader Filho foi o quadro
avalizado pelos deputados federais do MDB para representar a cota da bancada na
Esplanada. O nome dele foi apresentado pelo governador do Pará, Helder Barbalho
(MDB), e chancelado pelos emedebistas, num cenário em que 9 dos 45 deputados da
legenda são paraenses.
Empresário, Jader Filho surpreendeu ao
conciliar capacidade de trabalho e traquejo político. Nomeou deputados para
postos-chave na pasta: Hildo Rocha (MDB-MA) para a secretaria-executiva, e o
ex-líder Leonardo Picciani (MDB-RJ) para a secretaria de Saneamento Ambiental.
Abriu diálogo com parlamentares, prefeitos e governadores de todos os partidos.
Os números da pasta fizeram Lula sorrir. A
meta do MCMV para este ano é contratar 450 mil unidades, e até agora, já foram
firmados 350 mil contratos. O ministério já entregou 12 mil residências, e
pretende fechar o ano com 21 mil chaves entregues aos beneficiários, bem como
retomar 30 mil obras paralisadas.
Também chamou a atenção a presença de Simone
Tebet na solenidade de entrega de 537 casas em Aracruz, ao lado do governador
do Espírito Santo, Renato Casagrande (PSB).
Ela foi convidada pelo gabinete da
Presidência para representar o governo ao lado de Casagrande. Uma demonstração
singular de prestígio com o presidente Lula. O presidente confidenciou a
interlocutores que Simone foi uma de suas gratas surpresas. Ela tem sido
elogiada pelo empenho, lealdade e estilo “low profile”. Quando foi nomeada,
havia o temor, principalmente entre petistas, que ela disputasse holofotes com
o ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Mas ela se revelou uma jogadora leal,
impôs-se pela competência e ganhou respeito no espaço delimitado que lhe foi
oferecido - reduzido porque atribuições da pasta foram remanejadas para o
Ministério da Gestão e Inovação, de Esther Dweck.
Uma interlocutora da ministra lembrou que nas
plenárias do Plano Plurianual (PPA), conduzidas por Tebet, a pauta da moradia
foi muito forte, e na maioria das vezes, levada por mulheres.
No ato, Tebet não poupou loas a Lula. Lembrou
que ao convidá-la para o ministério, pediu que ela garantisse o poder de compra
da população. “Ele [Lula] disse pra mim, que sou ministra do Orçamento, que
todos os anos, o salário mínimo tem que subir acima da inflação porque é a
forma do povo ter dignidade”. Depois de ser ovacionada, ela ainda puxou o coro
“Olê, olê, olá, Lula, Lula”.
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