Folha de S. Paulo
Pior que pode acontecer ao ex-presidente é a
vitória de candidatos que rejeitaram ou esconderam seu apoio
Se Jair
Bolsonaro confiasse em sua força numa capital competitiva como São Paulo,
bastaria fechar os olhos, escolher ao acaso um candidato a prefeito e esperar a
contagem dos votos. O
vaivém nas negociações com Ricardo Nunes é
sinal de que não é tão fácil a vida de um político distante do poder e
inelegível.
O pior que pode acontecer a Bolsonaro nas eleições municipais do ano que vem não é só a derrota em massa de seus aliados. Os maiores riscos para o ex-presidente seriam vitórias de candidatos de direita que rejeitaram ou esconderam seu apoio.
Os bolsonaristas tratam as disputas de
2024 como um capítulo importante na briga pela manutenção do domínio
desse campo político. O objetivo é vender a ideia de que Bolsonaro é a única
força política nacional capaz de vencer a esquerda e que, portanto, sua
inelegibilidade representa um prejuízo coletivo.
Carlos Bolsonaro antecipou esse discurso numa
entrevista a uma apoiadora. O vereador tentou passar a mensagem de que a
direita depende do ex-presidente para sobreviver e disse que considera difícil
creditar a eleição de conservadores "a outros fatores que não Jair
Bolsonaro".
"A gente vai mostrar que o que tentam
fazer com o presidente Bolsonaro, que é matar a única força política contra
[aquela] que colocaram na Presidência nas últimas eleições… Se não estiver
atrelado a ele, a dificuldade vai ser muito maior", afirmou.
Alguns políticos de direita não têm tanta
certeza disso, como sugere o embaraçoso tratamento dado por Ricardo Nunes a
Bolsonaro. Às segundas, quartas e sextas, o prefeito articula uma aliança em
torno de sua campanha à reeleição. Às terças e quintas, ele prefere declarar
publicamente que não tem uma relação de proximidade com o ex-presidente.
Nunes trabalha por uma aliança discreta
porque acredita que essa é a melhor maneira de conseguir o voto da
direita sem
ficar contaminado pela rejeição ao ex-presidente na capital. Para
Bolsonaro, isso significaria terminar 2024 como um cabo eleitoral problemático
ou descartável.
Na cidade de São Paulo Bolsonaro não é forte como no interior.
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