sexta-feira, 27 de outubro de 2023

Eliane Cantanhêde - Exército vai entrar na guerra contra o crime

O Estado de S. Paulo

Exército participa do esforço contra o crime no Rio, mas sem GLO, tanques na rua e operações nos morros

O Exército vai entrar na guerra contra o crime no Rio, mas, até aqui, sem Garantia da Lei e da Ordem (GLO), sem tanque nas ruas e sem tropas subindo os morros e trocando tiros com o “inimigo”, leia-se o crime organizado e as milícias, embolados numa coisa só, desafiando o Estado e aterrorizando a sociedade.

A intenção é usar a Força Terrestre na fronteiras, sobretudo nas fronteiras de Paraná e Mato Grosso, estratégicas para esse “inimigo”. Mas com limites: a responsabilidade (e culpas) continuará com o governo do Estado e a solução é de todos os poderes e órgãos.

O que está em estudo é a aplicação da GLO, prevista na Constituição, para a Marinha agir nos portos e a Aeronáutica nos aeroportos, também pontos nevrálgicos para o crime. Já o Exército, que lambe as feridas e tenta superar os traumas da era Bolsonaro, basta usar a Lei Complementar 97, de 1999, depois atualizada como 136.

Essa atuação das Forças Armadas, que será apresentada ao presidente Lula na segunda-feira, envolve várias áreas do governo, até o Ministério da Fazenda, porque uma das prioridades é asfixiar financeiramente as facções e milícias. A audácia do crime organizado é tanta que seus chefes juntam e lavam dinheiro a rodo, com a venda de gelo nas praias até a construção de prédios e condomínios, como na zona oeste do Rio e na zona sul de São Paulo, na área de Parelheiros.

Além de não assumir responsabilidades e ônus políticos que são do próprio Rio, o governo federal também tenta cuidar da própria imagem e a das FA, articulando novos modelos que não repitam as falhas e a ineficácia de antigas operações de GLO: 18 meses nos complexos do Alemão e da Penha e 14 no Complexo da Maré nos primeiros governos Lula e nos de Dilma Rousseff, além da intervenção federal de dez meses em 2018, no governo Temer. Até o atual comandante do Exército, general Tomas Paiva, participou de duas delas. O que sobrou disso? Nada.

Aliás, sobrou uma investigação sobre desvio de dinheiro público na intervenção, à época comandada pelo general Walter Braga Netto, depois ministro da Defesa, chefe da Casa Civil, candidato a vice-presidente na chapa de Bolsonaro e, hoje, com pedido de indiciamento pela CPMI do Golpe.

Por isso, Exército, FA, Defesa e o próprio Lula querem, de um lado, a ação militar contra o caos no Rio e, de outro, cuidado para evitar mais frustrações e danos à imagem. É por isso, aliás, o consenso de que, para frente, pode ser, mas não é hora de retomar a Comissão da Verdade sobre a ditadura militar. Parece que nunca é hora… •

 

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