O Estado de S. Paulo
Exército participa do esforço contra o crime no Rio, mas sem GLO, tanques na rua e operações nos morros
O Exército vai entrar na guerra contra o
crime no Rio, mas, até aqui, sem Garantia da Lei e da Ordem (GLO), sem tanque
nas ruas e sem tropas subindo os morros e trocando tiros com o “inimigo”,
leia-se o crime organizado e as milícias, embolados numa coisa só, desafiando o
Estado e aterrorizando a sociedade.
A intenção é usar a Força Terrestre na
fronteiras, sobretudo nas fronteiras de Paraná e Mato Grosso, estratégicas para
esse “inimigo”. Mas com limites: a responsabilidade (e culpas) continuará com o
governo do Estado e a solução é de todos os poderes e órgãos.
O que está em estudo é a aplicação da GLO, prevista na Constituição, para a Marinha agir nos portos e a Aeronáutica nos aeroportos, também pontos nevrálgicos para o crime. Já o Exército, que lambe as feridas e tenta superar os traumas da era Bolsonaro, basta usar a Lei Complementar 97, de 1999, depois atualizada como 136.
Essa atuação das Forças Armadas, que será
apresentada ao presidente Lula na segunda-feira, envolve várias áreas do
governo, até o Ministério da Fazenda, porque uma das prioridades é asfixiar
financeiramente as facções e milícias. A audácia do crime organizado é tanta
que seus chefes juntam e lavam dinheiro a rodo, com a venda de gelo nas praias
até a construção de prédios e condomínios, como na zona oeste do Rio e na zona
sul de São Paulo, na área de Parelheiros.
Além de não assumir responsabilidades e ônus
políticos que são do próprio Rio, o governo federal também tenta cuidar da
própria imagem e a das FA, articulando novos modelos que não repitam as falhas
e a ineficácia de antigas operações de GLO: 18 meses nos complexos do Alemão e
da Penha e 14 no Complexo da Maré nos primeiros governos Lula e nos de Dilma
Rousseff, além da intervenção federal de dez meses em 2018, no governo Temer.
Até o atual comandante do Exército, general Tomas Paiva, participou de duas delas.
O que sobrou disso? Nada.
Aliás, sobrou uma investigação sobre desvio de dinheiro público na intervenção, à época comandada pelo general Walter Braga Netto, depois ministro da Defesa, chefe da Casa Civil, candidato a vice-presidente na chapa de Bolsonaro e, hoje, com pedido de indiciamento pela CPMI do Golpe.
Por isso, Exército, FA, Defesa e o próprio
Lula querem, de um lado, a ação militar contra o caos no Rio e, de outro,
cuidado para evitar mais frustrações e danos à imagem. É por isso, aliás, o
consenso de que, para frente, pode ser, mas não é hora de retomar a Comissão da
Verdade sobre a ditadura militar. Parece que nunca é hora… •
Quem sabe faz a hora.
ResponderExcluirSei.