terça-feira, 10 de outubro de 2023

Eliane Cantanhêde - Nome aos bois (e aos atentados)

O Estado de S. Paulo

Brasil teme que guerra em Israel afete economia e evolua para crise internacional

É um alívio que o presidente Lula, trancado no Alvorada, recuperando-se da cirurgia no quadril, não tenha dado entrevistas ou declarações de improviso sobre a guerra em Israel. O risco era Lula repetir os erros e a confusão que aprontou ao falar, por exemplo, sobre a invasão da Ucrânia e a ditadura da Venezuela. Vai que ele, para defender a Palestina, ousasse amenizar o ataque terrorista do Hamas?

Por escrito, e bem assessorado, Lula reagiu de forma cautelosa no X, dizendo-se “chocado com os ataques terroristas contra civis, com numerosas vítimas”, reafirmando “repúdio ao terrorismo em qualquer de suas formas” e prometendo esforços para “uma solução que garanta a existência de um Estado palestino economicamente viável, convivendo pacificamente com Israel dentro de fronteiras seguras para ambos os lados”.

Um ataque, por ar, mar e terra, atingindo crianças e velhos, inclusive mil jovens num show, é um atentado terrorista condenável sob todos os aspectos e ponto final. Mas ideologia, política e interesses nem sempre permitem posições claras, diretas. Lula, por mais simpático à causa palestina, por mais resistência que tenha a Israel, deu nome aos bois: atentado terrorista é atentado terrorista.

Na presidência rotativa do Conselho de Segurança da ONU, o Brasil convocou reunião de emergência do colegiado, que aprofundou a percepção geral do processo da ONU rumo à irrelevância. Dominada pelos EUA, rachada entre países que insistem em não admitir novas potências e pairando sobre consensos impossíveis, a ONU ficou em cima do muro.

Ontem, Lula fez sua primeira reunião com o conselho político do governo, de casa, por internet, e incluiu o ministro da Defesa, José Múcio, e o assessor internacional, Celso Amorim, para ouvir deles sua visão da guerra e as providências para retirar mais de mil brasileiros da área de conflito. Nada de novo, mas houve concordância na avaliação sobre a guerra.

Ela já começou em grandes proporções, fica pior com o cerco israelense a Gaza, com bloqueio de luz, água e comida, e pode evoluir para uma crise internacional imprevisível, caso – como alertou o embaixador aposentado Rubens Barbosa – o Hezbollah entre no conflito e atraia o mundo árabe. Com EUA e Europa ao lado de Israel e os países árabes com os palestinos, o que farão Irã, China e Rússia? E no rastro da guerra da Ucrânia?

Para o Brasil, preocupa a disparada do petróleo, com aumento do preço interno da gasolina e do diesel, pressão sobre a inflação e recuo na trajetória de queda dos juros. E o dólar só subindo. O problema deixou de ser Congresso e o BC. O buraco, agora, é muito mais em cima.

 

2 comentários:

  1. "um atentado terrorista condenável sob todos os aspectos" não precisa de um ponto final"! Ele acontece num CONTEXTO! Mesmo que a competente colunista não esteja interessada em mostrá-lo ou discuti-lo. Ou até que ela prefira desconhecê-lo ou ocultá-lo... Ele existe e tem que ser entendido, mesmo contra a vontade da colunista.

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  2. E tem gente que quer justificar um atentado.

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