O Globo
Em nome do anti-imperialismo, jogamos fora o
respeito aos mais fundamentais princípios de humanidade
Logo após o ataque do Hamas a Israel, mensagens de apoio à causa palestina tomaram as mídias sociais. Primeiro, vieram as chocantes imagens de jovens massacrados num festival de música, famílias inteiras assassinadas em fazendas e kibutzim, sequestros de crianças e idosos. Minutos depois, chegaram mensagens entusiasmadas de apoio à causa palestina — vindas de ativistas, de lideranças políticas e de parlamentares de esquerda. Como chegamos ao ponto em que pessoas de bem celebram, como um ato justo de resistência, o terrorismo, o assassinato frio de civis?
Podemos supor que essas mensagens apoiaram apenas a “resistência palestina”. Mas o Hamas não são os palestinos. O Hamas nem representa os palestinos — nem sequer os da Faixa de Gaza. O Hamas é um agrupamento político teocrático, não democrático, que não reconhece o Estado de Israel e pratica o terrorismo como forma de luta. Governa de fato a Faixa de Gaza, mas não se pode dizer que é um governo legítimo. O Hamas chegou ao poder por meio da via eleitoral em 2006, expulsou seu concorrente secular (o Fatah) e governa o território desde então sem eleições periódicas.
O movimento que vimos não foi uma explosão
espontânea de revolta da população civil palestina, foi uma ação militar
friamente planejada por um agrupamento político-religioso para atingir
propósitos políticos. Ao apoiar a ação “de resistência”, não se apoiam os
palestinos, mas o Hamas.
Tampouco se apoiam os palestinos ao apoiar
uma ação contrária a Israel. A crítica às políticas de Israel para a Palestina
inclui muitas posições, e o terrorismo teocrático do Hamas é a pior delas. Há
um sem-número de motivos para criticar a política israelense que transformou a
Faixa de Gaza numa espécie de prisão a céu aberto e que aos poucos ocupa todo o
território da Cisjordânia com sucessivos assentamentos ilegais. Todas essas
críticas são necessárias. E nenhuma delas precisa levar a apoiar o terrorismo.
Isso posto, podemos discutir por que, afinal
de contas, precisamos nos importar com o apoio ao Hamas se estamos no Brasil,
tão longe da guerra. Importa pouco para o desenlace do conflito se o MST, o PT
ou algum parlamentar brasileiro faz ou deixa de fazer uma declaração de apoio
às ações do Hamas. A importância dessas declarações está noutro lugar.
As declarações sinalizam uma complacência com
a violência e com o terrorismo quando se considera que o adversário ou as ações
do adversário são ilegítimas. O que preocupa nas declarações de apoio é que uma
ação bárbara que assassinou friamente centenas de civis possa ser considerada
legítima ou aceitável porque se entende que Israel oprime os palestinos.
O raciocínio que leva a apoiar a ação do
Hamas porque se condena a política de Israel não é diferente daquele que leva a
apoiar as violações de direitos humanos na Venezuela porque se condena o
golpismo da oposição. Também não é diferente daquele que apoia a invasão do
Congresso brasileiro porque se considera que o STF e o TSE são parciais.
Toda essa chocante onda de apoio à causa
palestina no contexto das ações do Hamas preocupa porque, em nome do
anti-imperialismo, jogamos fora o respeito aos mais fundamentais princípios de
humanidade. E nada disso muda — na verdade, se agrava — se, nos próximos dias,
viermos a testemunhar, do outro lado, apoio aos abusos das Forças de Defesa de
Israel contra a população civil na Faixa de Gaza. Para enfrentar os adversários
políticos, não estamos apenas fechando os olhos aos abusos —estamos renunciando
à nossa decência.
Nenhuma palavra contra o TERRORISMO DE ESTADO de Israel... Respondendo a pergunta do colunista: SIM, boa parte dos colunistas já perdeu a decência, inclusive talvez ele próprio, ao querer associar os apoios à causa palestina com uma inexistente comemoração ("celebram") do recente ataque do Hamas.
ResponderExcluirO colunista está certíssimo,quem toma lado são psicopatas.
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