sábado, 25 de novembro de 2023

Alvaro Costa e Silva - Eduardo Paes contra o efeito Taylor Swift

Folha de S. Paulo

Não há mágica para tratar dependentes químicos

O fim de semana passado prometia ter a cara do Rio com que Eduardo Paes sonha: diversão, alegria, ruas e praias cheias de gente, a confirmar a vocação da cidade como destino de megaeventos. Paes ainda andava radiante com a compra de um super-radar finlandês por R$ 6,8 milhões, capaz de detectar a formação de chuvas a 150 quilômetros de distância, e a ampliação da parceria com a Nasa para acesso a 25 satélites que informam sobre a possibilidade de alagamentos e enchentes.

Veio a onda de altas temperaturas, combinada com o efeito Taylor Swift —um pesadelo de desrespeito, angústia e tristeza, que motivou uma decisão tomada no calor da hora. O prefeito usou suas redes sociais para determinar a elaboração de uma "proposta para que possamos implantar no Rio a internação compulsória de usuários de drogas". Hoje, governa-se com afobação e muitas vezes de forma leviana. Como quem tuíta.

Paes vai querer ficar um bom tempo sem ouvir falar em Taylor Swift. A sequência trágica começou com a morte de dois jovens sul-mato-grossenses que vieram assistir ao show da diva pop no Engenhão, durante o qual não foi permitida a entrada de fãs com garrafinhas de água. Em meio a desmaios, Ana Clara passou mal diante do palco. Gabriel foi esfaqueado em Copacabana; os suspeitos, já presos, são velhos conhecidos da polícia que circulam entre moradores de rua assaltando e consumindo drogas.

No dia do último show, outro jovem foi encontrado perto do estádio caído no chão com quadro de parada cardiorrespiratória; levado ao hospital, não resistiu. Segundo o secretário Daniel Soranz, ele tinha passagem por várias unidades de saúde e havia a recomendação para interná-lo.

O debate sobre a intervenção compulsória de dependentes químicos é recorrente no país. Todo mundo tem um palpite, em geral mágico. A ver se o prefeito apresenta um programa que vá além da indignação nas redes.

 

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