Correio Braziliense
O Brasil já passa por uma rápida expansão da
geração de energia eólica e solar, porém a falta de investimentos e
planejamento gera instabilidade no sistema energético
Cerca de 2,4 mil brasileiros deverão
participar da Conferência das Partes (COP) da Convenção-Quadro das Nações
Unidas para Mudanças Climáticas (UNFCCC), em Dubai, das quais aproximadamente
400 formam a delegação do governo brasileiro. Com uma escala em Riad, capital
da Arábia Saudita (cuja importância para o Brasil tem a ver com seu poder de
investimento e papel nas negociações da guerra de Gaza), o presidente Luiz
Inácio Lula da Silva está acompanhado de 12 ministros, entre os quais Marina
Silva, do Meio Ambiente, uma das estrelas da COP28.
A realização da COP em Dubai, de 30 de novembro a 12 de dezembro, em si, é objeto de polêmica. Chega a ser irônico que o país-sede do evento tenha como principal negociador o presidente-executivo da empresa petrolífera estatal, Sultan al-Jaber. Petróleo, gás e carvão são vilões do clima, devido ao efeito estufa, uma das principais causas do aquecimento global, em consequência da grande liberação de dióxido de carbono na atmosfera. Com a guerra da Ucrânia e a implosão do gasoduto russo que abasteceria a Europa Ocidental, a petroleira expande sua produção, como as demais, inclusive a Petrobras.
Dubai é a maior cidade dos Emirados Árabes
Unidos. Está localizada na costa leste da península Árabe e ao sul do Golfo
Pérsico, sendo um case de modernização. O poder de atração que exerce está
associado a suas belezas naturais, como as praias paradisíacas e o deserto, à
cultura árabe em contraste com sua arquitetura futurista projetada para ser um
grande centro financeiro e incrementar o turismo de negócios.
Os Emirados têm uma estratégia para
sobreviver à ultrapassagem da economia do carbono em duas gerações. Por
exemplo, Dubai planeja consumir 25% de energia de fontes renováveis em 2030 e
75% em 2050. Seus fundos de investimentos já são responsáveis por investimentos
da ordem de US$ 20 bilhões em energias renováveis.
É interessante comparar o esforço dos
Emirados Árabes de se preparar para o pós-petróleo com a política energética
brasileira, cujas matrizes principais ainda são o petróleo e a energia
hidroelétrica, mas tem enorme potencial para produção de energias alternativas.
A COP28 é uma oportunidade de protagonismo mundial para o Brasil na questão
ambiental.
Transição energética
O Brasil já passa por uma rápida expansão da
geração de energia eólica e solar, porém a falta de investimentos e
planejamento gera instabilidade no sistema nacional de transmissão de energia,
como aconteceu em agosto com o apagão do Norte e do Nordeste, provocado por uma
sobrecarga de energia solar e eólica no Ceará. Para superação do problema, a
chave é o armazenamento de energia, que atrai grandes investimentos chineses,
europeus e árabes para o setor. Segundo o empresário Márcio Toledo, presidente
da Armazene, "é preciso regulamentar e fomentar o desenvolvimento do setor
para aproveitar as oportunidades geradas pela energia limpa e o combustível
(hidrogênio) verde, de forma sustentável, segura e comprometida
socialmente".
O mundo pressiona a indústria do petróleo e
do gás a tomar medidas para expansão de tecnologias limpas, como a energia
eólica e solar. Espera-se que a COP28 reitere o objetivo de limitar a 1,5ºC os
aumentos de longo prazo da temperatura global, conforme o Acordo de Paris, de
2015, firmado por 220 países. Estima-se que o aquecimento do planeta chegará de
2,4°C a 2,7°C até 2100, agravando um problema que todos estão sentindo: os
eventos extremos.
Na COP, as principais questões a serem
debatidas são acelerar a mudança para fontes de energia limpas para
"reduzir" as emissões de gases com efeito de estufa antes de 2030;
distribuir recursos para a ações climáticas dos países mais ricos para os mais
pobres e trabalhar num novo acordo para as nações em desenvolvimento; focar as
políticas de desenvolvimento na natureza e nas pessoas, de forma mais
inclusiva, principalmente na alimentação, na saúde e na renda.
Os grandes ausentes do encontro são o
presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, e o presidente da China, Xi Jinping,
mas o primeiro-ministro do Reino Unido, Rishi Sunak, participará. O rei
Charles, que sempre foi um ativista ambiental, fará o discurso de abertura aos
delegados em 1º de dezembro. Com certeza, as contradições entre os governos e o
movimento ambientalista emergirão com força, porque milhares de instituições de
caridade ambientais, grupos comunitários, think tanks, empresas e grupos
religiosos estarão representados no encontro.
O foco das tensões será o debate sobre o uso
de combustíveis fósseis. Os países desenvolvidos, que se propunham a liderar a
conversão energética, voltaram a queimar mais carvão, petróleo e gás sem
investir em tecnologias para capturar as suas emissões na escala necessária. A
COP27 aprovou a criação de um fundo de "perdas e danos" para os
países mais ricos pagarem aos mais pobres, que enfrentam os efeitos das
alterações climáticas. Mas até hoje nada se fez para efetivá-lo. Os EUA
descartaram o pagamento de reparações climáticas pelas suas emissões
históricas. Em 2009, os países desenvolvidos comprometeram-se a doar US$ 100
bilhões (R$ 490 bilhões) por ano, até 2020, aos países em desenvolvimento, para
reduzir as emissões e se preparar para as alterações climáticas. A meta não foi
atingida.
Ninguém aguenta mais tanto calor.
ResponderExcluir