O Globo
Ir para o Supremo não significa que Flávio
Dino não possa se tornar um candidato potencial à Presidência da República
Ao deixar a magistratura para dedicar-se à
política partidária, Flávio Dino provavelmente não tinha em seus planos voltar
a ela para ocupar uma vaga no Supremo Tribunal Federal (STF), mas o destino fez
com que, justamente por suas qualidades de político, fosse a escolha certa para
o presidente Lula indicar à vaga aberta com a aposentadoria compulsória da
ministra Rosa Weber.
O caráter político que vem dominando o
Supremo nos últimos anos, e provavelmente persistirá por muito tempo a
considerar a idade média dos principais ministros que ditam o ritmo da Corte
hoje, é perfeito para a atuação de Dino, senador eleito e conhecedor dos
meandros políticos tanto ou mais que dos jurídicos.
O espírito combativo de Dino, já demonstrado na atuação como ministro da Justiça, satisfazia a Lula e incomodava os petistas, que o viam como opção viável para a disputa da sucessão do presidente, caso ele decidisse não se recandidatar à Presidência em 2026. Ir para o Supremo não significa que Flávio Dino não possa se tornar um candidato potencial à Presidência da República, mas, sem dúvida, teria um caminho bem mais tortuoso que se permanecesse ministro da Justiça, ou até senador do PSB.
Com a movimentação de ontem, incluindo a ida
de Paulo Gonet para a Procuradoria-Geral da República, Lula desagradou ao PT de
cima a baixo, mas acertou seu passo com os principais ministros do Supremo,
como o presidente Luís Roberto Barroso e os ministros Gilmar Mendes e Alexandre
de Moraes, agradou aos principais líderes do Senado, Rodrigo Pacheco, atual, e
Davi Alcolumbre, futuro presidente do Congresso, com um gesto político sutil,
ao comunicar-lhes as escolhas antes de anunciá-las publicamente.
A definição da sabatina para o dia 13 de
dezembro já demonstra a reciprocidade do gesto. Os indícios sugerem que o voto
do senador Jaques Wagner a favor da PEC restringindo poderes do Supremo pode
não ter sido combinado com Lula, mas ajudou a pacificar a relação do
Legislativo com o Executivo. Dar ao Supremo a primazia na escolha do ministro e
do procurador-geral da República foi uma retribuição de Lula que não lhe custou
caro, pelo menos no caso de Dino.
A escolha do conservador Paulo Gonet, que
irritou uma ala petista, também não parece uma ameaça ao Executivo, pois seus
atos são marcados pelo equilíbrio jurídico. Ex-sócio do ministro Gilmar Mendes,
tendo trabalhado no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) com os ministros Luís
Roberto Barroso e Alexandre de Moraes, passou confiança aos ministros do STF
que o terão em suas sessões.
Já se sabia que, depois do mensalão, do
petrolão e da prisão, o presidente Lula mudou sua maneira de pensar as
indicações para PGR e Supremo. Escolheu Gonet fora da lista tríplice, ao
contrário da então presidente Dilma, que nomeou os primeiros colocados Roberto
Gurgel e Rodrigo Janot, e Dino, assim como Zanin, por critérios de confiança.
Pode ainda ter a possibilidade de indicar mais um ministro, caso Barroso
confirme a intenção de antecipar a aposentadoria quando terminar seu mandato na
presidência do STF.
Esse quebra-cabeça institucional não
garantirá, porém, a tranquilidade de Lula, que tem de lidar com presidentes da
Câmara e do Senado muito mais empoderados. A tramitação da PEC do Supremo na
Câmara dará margem a que o deputado Arthur Lira exerça o poder que concentra
para exigir favores em troca. Na escolha do futuro ministro da Justiça haverá
uma disputa de bastidores entre os petistas, que anseiam ter mais participação
no ministério, e o Centrão. A criação de um novo ministério, da Segurança
Pública, entrará nessa negociação.
É.
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