Folha de S. Paulo
Há muito discurso sobre causas sociais do
crime, mas nada sobre enfrentamento
Vejo no WhatsApp um vídeo de
linchamento em
Copacabana. São homens e mulheres, jovens e idosos, brancos,
mestiços e negros —uma multidão— surrando um jovem negro que tenta fugir
desesperado. O vídeo não traz contexto, mas é de se supor que o sujeito tenha
sido pego roubando. É uma cena bárbara.
Jamais defenderei a formação de grupos de
justiceiros, mas alguém acha que a população ficará passiva apenas assistindo
vizinhos, amigos e familiares vitimados pelo crime violento sem fazer nada,
enquanto o Estado negligencia sua atribuição mais elementar?
Está corretíssimo quem aponta os problemas desse tipo de iniciativa. Fácil, fácil ela pode se transformar em mais uma milícia do crime organizado. O único jeito, contudo, de impedi-la é apresentar a alternativa: o Estado mostrar-se eficaz contra assaltos e arrastões. Se a polícia agora vier investigar e prender os responsáveis pelos grupos de justiceiros, enquanto continua a não fazer nada contra os assaltantes, estará apenas aprofundando o completo sentimento de abandono —e a indignação— do povo.
A humanidade não consegue entrar em acordo
quanto ao sumo bem. Mas podemos, sim, nos unir para evitar aquilo que todos
concordamos ser o sumo mal: a morte violenta, nossa ou de nossos entes
queridos. Essa é a base do contrato social e da fundação do Estado, ao menos
segundo Hobbes. Vivemos, portanto, a falência do contrato social em diversas
cidades brasileiras: o medo da morte violenta é cotidiano.
Os furtos em
Copacabana aumentaram 56% de janeiro a outubro de 2023 se
comparados ao mesmo período de 2022. Já as prisões caíram 11%. Com a
onipresença das câmeras, em postes, muros e celulares, hoje vemos muito mais do
que no passado. Assaltos, arrastões, furtos. Uma
jornalista da Rede Globo sofreu tentativa de furto do celular
durante transmissão em São Paulo. Poucos dias depois, a deputada federal Tabata Amaral foi
vítima de tentativa de assalto também em São Paulo.
Na direita, a resposta mais fácil é
culpar Lula. Um
discurso fácil, que se esquece de que quem cuida da segurança pública são
principalmente governo do estado e prefeitura. No entanto a acusação tem seu
fundinho de verdade em outro sentido: a esquerda é um vazio de propostas no
tema da segurança. Quando falam de polícia e prisão, a única preocupação é
garantir os direitos
humanos dos presos. Isso é louvável, mas por que não se
preocupar também com os direitos humanos das vítimas presentes e futuras? A
proteção desses depende do uso da violência contra os criminosos que as atacam.
Há muito discurso sobre as causas sociais do
crime, mas nada sobre como enfrentá-lo agora. Não adianta propor medidas de
prevenção contra incêndio quando o prédio já está pegando fogo.
Ter presos em flagrante liberados por
audiência de custódia ou, depois de pouco tempo presos, em regime de progressão
de pena é um desrespeito a quem segue a lei. Precisamos de mais policiamento,
de uma Justiça mais dura com quem comete furtos e assaltos e, possivelmente, de
mais presídios.
Há tanta filmagem de criminosos nas ruas;
como é que isso não resulta em investigação e prisões? Há bastante trabalho
para as três esferas do Executivo e do Legislativo. A violência sempre irá
existir; a única escolha é se ela será monopólio do Estado ou se será
terceirizada para os cidadãos, jogando-nos para a guerra de todos contra todos.
Só existem essas duas opções, e não há discurso idealista que apague essa
realidade.
Os direitos humanos é fundamental,inclusive pra quem quebrou Brasília.
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