Quando o mar tem mais segredo
É quando é calmaria”
O título deste artigo repete, em parte, o
do primeiro desta coluna (“Em busca de um centro: uma eleição e dois scripts”)
publicado em 12 de dezembro de 2020. Reitera um ponto que esta coluna via e
continua vendo como requerimento racional a ser feito à política brasileira. Como
no artigo pretérito, aqui se tenta interpretar possibilidades que manifestações
do soberano real, ocorridas em dado momento eleitoral, deixam abertas para a
satisfação, ou não, de tal requerimento, pela política a ser praticada após as
eleições, as quais - não é demais lembrar - são os momentos políticos magnos,
em democracias.
Porém, a magnitude do voto não provém do magma que se desprende como lava enquanto o momento eleitoral acontece. Ela se mostra tanto mais plena quanto possa orientar os atores políticos na sua lida diária com a política fria. Cada estelionato eleitoral agride essa magnitude do instante soberano e pode deixar o eleitor enfurecido por uma fúria realista, cobrada a prazo e servida também a frio, como a vingança. Quem recolhe os votos do eleitor transforma-se em seu cavalo, mas em geral não sabe que anjo mora dentro do montador que ele julga ser montaria. Anjo vingativo, que lhe “fere de esporas” enquanto fora da urna canta, em ritmo de calmaria, a música que o político incauto toca. Eis o segundo sentido (além do de lembrar Sueli Costa viva, na letra de Cacaso) da citação que epigrafa este artigo.