O Globo
Ministro da Fazenda e presidente do PT não
admitem, mas querem a mesma coisa
Fernando
Haddad terminou 2023 como o ministro mais forte do governo Lula
3. A economia cresceu acima do esperado, enquanto a inflação e o desemprego
caíram. Mesmo assim, o petista passou o ano na mira do próprio partido.
Em dezembro, o PT afirmou em resolução que o
Brasil “precisa se libertar, urgentemente, da ditadura do BC ‘independente’ e
do austericídio fiscal”. Haddad não foi citado, mas encarou as últimas duas
palavras como um ataque à sua política de déficit zero.
Em entrevista ao GLOBO, o ministro da
Fazenda passou recibo
da irritação. “Não dá para celebrar Bolsa, juros, câmbio,
risco-país, PIB que passou o Canadá, e simultaneamente ter a resolução que fala
que está tudo errado, tem que mudar tudo”, queixou-se.
Ele ainda reclamou do modo como dirigentes petistas celebraram os números da economia nas redes sociais. “Meu nome não aparece. O que aparece é assim: ‘A inflação caiu, o emprego subiu. Viva Lula’. E o Haddad é um austericida”, protestou.
Haddad não é o primeiro titular da Fazenda a
ser alvo de fogo amigo do PT. No governo Lula 1, Antonio Palocci ouviu as
críticas semelhantes ao manter o tripé macroeconômico da era FH. Naquela época,
a Casa Civil já fazia pressão para afrouxar o controle sobre o gasto público. A
então ministra Dilma Rousseff chegou a definir como “rudimentar” um plano para
aumentar o superávit primário.
Até o escândalo do caseiro, Lula arbitrou
todas as disputas a favor de Palocci. Faz o mesmo agora, com seguidos elogios a
Haddad. Isso sugere que o ministro não deveria se incomodar tanto com
provocações de aliados em cards de Natal.
Na entrevista, Haddad também disse que o PT
deveria começar a buscar um sucessor para Lula, que deve concorrer a mais uma
reeleição em 2026. “O fato é que a questão vai se colocar. E penso que deveria
haver uma certa preocupação com isso”, afirmou. Num surto de modéstia, o
ministro disse que “não pensa” em si mesmo como herdeiro do espólio lulista.
Ontem a presidente do PT, Gleisi
Hoffmann, respondeu que
criticar a Fazenda é “direito do partido” e que debater a
sucessão de Lula é uma ideia “extemporânea”. Não é segredo em Brasília que ela
também sonha em concorrer ao Planalto.
Na prática, Gleisi e Haddad medem forças
porque querem a mesma coisa. Como se viu tempos atrás, com Dilma e Palocci.
Sei.
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