Folha de S. Paulo
Presidente reconhece tamanho do problema que
dois órgãos estratégicos representam hoje
Lula cutucou
uma disputa que evoluiu de intriga para briga feia entre a Abin e
a Polícia
Federal. Ao comentar as investigações que miram o órgão de inteligência, o
presidente alertou que a
PF não deveria fazer "show pirotécnico" em suas ações. Na
sequência, o petista se virou para o outro lado e admitiu sua desconfiança em
relação à agência.
O excesso de sinceridade do presidente dá conta do tamanho do problema que os dois aparelhos estratégicos representam para o governo. Lula tem hoje uma Polícia Federal que se lançou numa cruzada para derrubar a cúpula da Abin. A chefia da agência, por sua vez, foi contaminada por acusações de arapongagem com fins políticos.
Em cerca de um minuto, o petista fez um
diagnóstico bruto sobre a Abin. Disse que "nunca está seguro",
afirmou que escolheu um delegado da PF para dirigir a agência porque "não
conhecia ninguém" lá dentro e reproduziu a suspeita de que o número dois
do órgão atuou para blindar o grupo de Alexandre
Ramagem.
Um presidente que descreve assim o
departamento de inteligência do governo poderia extingui-lo no dia seguinte.
Lula preferiu passar uma mensagem de insatisfação com o órgão que abrigou um
braço de espionagem a serviço de Jair Bolsonaro. Além disso, reforçou a
percepção de que o bolsonarismo continua presente em postos sensíveis.
O próprio Lula posicionou na guilhotina o
pescoço do número dois da Abin. Afirmou que não haveria clima para "esse
cidadão" continuar no cargo se fossem comprovadas acusações de obstrução.
A demissão saiu no fim do dia. Mas o mesmo Lula segurou os ânimos da PF ao
manifestar "muita confiança" em relação ao chefe da agência.
Dentro dessa guerra, as críticas do petista à
espetacularização de ações da PF, embora recorrentes, ganham um sentido
particular. Num momento em que os investigadores parecem mais
do que dispostos a avançar sinais, o presidente tenta, ao menos, evitar
novos danos domésticos.
Exatamente.
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