Folha de S. Paulo
Brasil piora sua posição em ranking anual da
Transparência Internacional
O Brasil piorou
sua posição no ranking anual de percepção da corrupção da
ONG Transparência Internacional. O país ocupa o 104º lugar entre as 180 nações
analisadas.
Medir a corrupção esbarra num problema óbvio. Corruptos e corruptores têm todo interesse em permanecer nas sombras. É só quando cometem algum erro e o esquema é descoberto que vai para os registros. Como é razoável imaginar que a taxa de sucesso não seja das mais baixas, o grosso fica fora do radar.
A Transparência tenta contornar a dificuldade
recorrendo a uma medida indireta, que é a percepção da corrupção. "Esse
est percipi" ("ser é ser percebido"), já assegurava Berkeley. Só
que Berkeley leva o idealismo longe demais. Há situações em que realidade e
percepção diferem. Isso não invalida esforços como o da Transparência, mas deve
nos fazer interpretar (perceber) seus achados com um grão de sal.
A corrupção varia em escopo e penetrância. Há
países em que nenhum cidadão consegue acessar um serviço público, como hospital
ou creche, sem molhar a mão de alguém, e há outros, como o Brasil, em que as
negociatas se concentram nas altas esferas. No primeiro caso, a percepção é bem
direta; no segundo, passa por intermediários, como órgãos de investigação,
mídia e o próprio clima político.
A avaliação da Transparência é que a piora
brasileira se deveu ao desmonte das instituições de controle. O processo
atingiu o ápice sob Bolsonaro, e o governo atual pouco ou nada fez para
reconstruí-las.
O segredo sujo em torno da corrupção é que
ela perdura porque funciona. Como gosto de dizer, é a segunda melhor forma de
organização da sociedade. O ideal seria um sistema no qual tudo se dá de acordo
com regras impessoais. A Dinamarca talvez esteja perto disso. Mas, para nações
menos escandinavas, a corrupção é preferível a um regime no qual tudo depende
do capricho de autoridades ou em que "concorrências" são decididas à
bala.
Cruzes!
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