Folha de S. Paulo
Os chefes do golpe estão soltos e seus
aliados, na vida pública
Segunda-feira, dia 8, fará um ano desde que
bolsonaristas invadiram a Praça dos Três Poderes para declarar guerra aos
pobres que salvaram a democracia brasileira na eleição presidencial de 2022.
Em 8 de janeiro de
2023, os soldados rasos do bolsonarismo defecaram no STF, esfaquearam uma tela
de Portinari, rasgaram exemplares da Constituição e vandalizaram as sedes dos
três Poderes.
Fizeram tudo com a complacência da polícia do governador bolsonarista Ibaneis Rocha, cujo secretário de segurança pública era o ex-ministro da justiça de Bolsonaro, Anderson Torres.
O 8 de janeiro foi o clímax de dois meses de
agitação golpista após a derrota de Bolsonaro. Bloqueios de estradas,
acampamentos em frente a quartéis, conflitos de rua às vésperas da diplomação
de Lula, uma tentativa de atentado terrorista na véspera de Natal, tudo isso
tinha o mesmo objetivo do vandalismo na Praça dos Três Poderes: criar um clima
de caos que servisse de pretexto para um golpe militar.
Quando os militares não apareceram, os
soldados rasos foram presos.
Mas ainda falta prender muita gente.
Os vândalos do 8 de janeiro não eram cidadãos
comuns em uma explosão de radicalismo: eram soldados rasos de um movimento
político organizado com extensa e bem financiada rede de desinformação, bancada
parlamentar própria e quartel-general no Palácio do Planalto.
Vejam, por exemplo, o que foi a 32ª reunião
extraordinária da Comissão de Transparência, Fiscalização e Controle no Congresso
Nacional, convocada e dirigida pelo senador Eduardo Girão (Novo-CE).
O vídeo com as 11 horas da sessão está
disponível no YouTube.
Foi um intensivão para golpistas do 8 de
janeiro. Todas as mentiras bolsonaristas sobre a eleição foram apresentadas
como se já não tivessem sido amplamente refutadas. Ao longo da sessão, os
desembargadores aposentados Sebastião Coelho (4:14) e Ivan Sartori (4:30), além
do deputado Filipe Barros (PL-PR) (7:27) pediram a
aplicação do artigo 142, que, nos delírios de Ives Gandra,
autorizaria uma intervenção militar. A deputada Aline Sleutjes (PROS-PR)
solicitou às Forças Armadas que "cumprissem seu dever" para impedir a
diplomação de Lula (9:17). O deputado José Medeiros (PL-MT) informou que já
havia entrado com pedido de GLO (7:35). Ao final da sessão, um cidadão pediu
que o próprio Girão invocasse ao artigo 142 (11:22). Girão encerrou a sessão
dizendo que "Tem colegas no Senado que
avaliam várias possibilidades".
O intensivão do golpe formou alunos
dedicados. Entre os que assistiram a sessão estava George
Washington de Souza. Na véspera de Natal de 2022, tendo como
cúmplice um ex-assessor
do ministério de Damares Alves, George Washington tentou explodir o
aeroporto de Brasília.
Se os parlamentares que participaram do
intensivão do golpe podem continuar no Congresso, não entendo por que os
vândalos de 8 de janeiro foram expulsos.
São a mesma gente, obedecendo ao mesmo
chefe: Jair
Bolsonaro. Jair passou quatro anos tramando golpes ao invés de
governar. Quando se recusou a reconhecer a vitória de Lula, deu a senha para a
onda golpista que culminou no 8 de janeiro.
Só quando os chefes do golpe tiverem sido presos, quando seus aliados de ocasião tiverem sido expulsos da vida pública, nossas instituições terão provado que mereciam mesmo ser salvas.
Bolsonaro passou 4 anos em campanha,porque sabe que fora do poder será preso. Aliás, seu maior protetor é Lula com seu governo. MAM
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