O Estado de S. Paulo
Haddad X Gleisi: visão econômica, conveniência eleitoral e disputa por 2030
Fernando Haddad, o sobrevivente, vai
evoluindo para Fernando Haddad, o “austericida”, confirmando a avaliação de um
assessor próximo, que vive o dia a dia do Ministério da Fazenda: “Centrão? Que
nada! Duro mesmo é conversar com o PT e a Gleisi Hoffmann”. O embate fratricida
tem três frentes: a visão econômica, a conveniência eleitoral e a disputa pelo
coração do presidente Lula e pela indicação para a eleição presidencial de
2030.
O PT e Gleisi, que foi chefe da Casa Civil de
Dilma Rousseff, têm visão econômica mais para Dilma do que para Lula 1 e 2.
Haddad evoluiu para mais pragmatismo e respeito aos indicadores macroeconômicos e à responsabilidade fiscal como fatores fundamentais para o crescimento do País e também para a justiça social. O embate vem desde o início de 2023, passando pela desoneração dos combustíveis, âncora fiscal e agora o déficit zero, além da tática de combate aos juros estratosféricos.
Nos juros, Gleisi, PT e Lula atacaram
diretamente o presidente do BC, enquanto Haddad se esfalfava para abrir canais
com Congresso, setor privado e o próprio Roberto Campos Neto – sem deixar de
cobrar queda dos juros. No déficit zero, Gleisi e Haddad se enfrentaram num
encontro do PT, ambiente favorável a Gleisi, que tem apoio também de Rui Costa,
da Casa Civil. Para ela, o que importa é o crescimento econômico, e rigidez
fiscal só atrapalha. Haddad rebateu: “Não é verdade que déficit faz crescer. De
dez anos para cá, o Brasil fez um R$ 1,7 trilhão de déficit e a economia não
cresceu”.
Haddad prestigia a arrecadação, e Gleisi, os
gastos. Entre eles, há o interesse do PT em usar a caneta e o governo nas
eleições municipais de outubro. O partido, em 11.º lugar no ranking de
prefeituras em 2022, sem nenhuma de capital, quer tirar o atraso. Já Haddad e
Lula focam nas eleições gerais de 2026.
A terceira frente é direta entre Haddad e
Gleisi, e também não é de agora. Em 2018, preso, Lula tinha três nomes para a
eleição presidencial: Jaques Wagner, que recusou, Gleisi, descartada, e Haddad,
que foi para o sacrifício. Com Lula disputando a reeleição em 2026, a projeção
para 2030 é de Gleisi versus Haddad novamente.
O fato é que nem Lula, nem Haddad, Gleisi e o
PT ganham nada com enfrentamentos, debates em público, briguinhas e ciúmes,
principalmente num ano em que o governo tem embates contratados com o Congresso
na economia, como reoneração da folha de salários, regulamentação da reforma
tributária, segunda fase dessa reforma (que Haddad já descarta para 2024) e vai
por aí afora. Se o governo vai bem, o PT também vai. Se não...
Pois é.
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