Valor Econômico
Ao falar de improviso, presidente resolveu
citar, ainda que indiretamente, Bolsonaro e seus três filhos
Histórico, o ato em
memória ao 8 de Janeiro poderia ter sido ainda mais
bem-sucedido se governo e oposição tivessem deixado de lado seus interesses
partidários pelo menos por um dia.
A ausência da oposição estava dada. Situação
que contrastava, aliás, com a garantida presença dos comandantes das Forças
Armadas. No fim do ano passado, o ministro da Defesa, José Múcio,
contou em evento realizado no Comando da Marinha que havia garantido ao
presidente Luiz Inácio Lula da Silva que, confirmada a realização do
evento, os três oficiais seriam os primeiros a chegar ao local.
Já alguns líderes de partidos do Centrão, inclusive integrantes das mesas diretoras da Câmara e do Senado, haviam anunciado que não interromperiam o recesso parlamentar para prestigiar a solenidade. Muitos dependem dos votos de eleitores mais radicais nas eleições, e argumentavam que o ato, originalmente concebido para registrar a reação institucional em defesa da democracia empreendida no dia 8 de janeiro de 2023, seria transformado num evento político capturado pelo Palácio do Planalto. A orientação era “sumir” de Brasília nessa segunda-feira.
Nas redes sociais, outros passaram a escrever
que o governo também aproveitava para desviar a atenção e procurar culpados, em
vez de apontar soluções e prestar contas à sociedade do que foi feito durante o
ano passado. Os mais radicais insistiram nas publicações segundo as quais os
ataques golpistas foram realizados por idosos, crianças e religiosos desarmados
que não tinham um líder.
Isso as investigações ainda irão esclarecer.
Provavelmente, mostrarão que na verdade ocorreu o oposto.
O que se pode afirmar, contudo, é que esse
comportamento coloca em xeque o discurso adotado pela ala política do governo Jair
Bolsonaro (PL) durante grande parte da administração anterior e toda a
campanha eleitoral.
Sempre que um ataque ao Supremo Tribunal
Federal (STF) era desferido, logo se ponderava nos bastidores que a ala
política do Planalto havia desaconselhado Bolsonaro a fazê-lo e não chancelava
tal estratégia. Esses mesmos atores perderam a oportunidade de se descolar
de vez das atitudes que culminaram na tentativa de golpe no dia 8 de janeiro do
ano passado, mas preferiram não desembarcar na capital federal.
Por outro lado, errou o presidente da
República na parte final
de seu discurso. Lula seguia bem o roteiro de defender a democracia,
destacar a coragem daqueles que saíram em defesa das instituições e apelar pela
união nacional. Porém, decidiu falar de improviso. Nesse momento, sugeriu aos
integrantes da Suprema Corte e ao presidente do Tribunal Superior Eleitoral
(TSE), ministro Alexandre de Moraes, que citem a sua história pessoal e a
do PT quando forem defender a democracia e o sistema eleitoral. Na sequência,
citou indiretamente Bolsonaro, seu partido, o PL, e seus três filhos.
Lula acabou dando argumentos àqueles que
equivocadamente faltaram à cerimônia e, até então, teriam severas dificuldades
quando fossem prestar contas com a História.
Pode ser.
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