Folha de S. Paulo
Investigada pela PF, deputada Lucinha
reassume cargo como se nada tivesse acontecido
A exemplo de colegas em Brasília, ansiosos
por protocolar um pedido de impeachment de Lula que não vai dar em nada,
deputados do Rio gastam o tempo em debates sobre a fala do presidente
associando a matança em Gaza a Hitler. Lá como cá, desloca-se o tema principal
—as ações do governo de Israel no combate ao terrorismo— para seguir o apito
das redes bolsonaristas, cujo intuito é aliviar a barra do chefe.
Na terça (20), enquanto atacavam Lula nas tribunas da Alerj —"amigo de ditadores e terroristas", "vergonha internacional para o Brasil", "declaração criminosa e antissemita"—, parlamentares não notaram, ou fingiram não notar, à exceção de afagos protocolares, a presença da deputada Lúcia Helena Pinto de Barros, a Lucinha, no plenário.
Ela estava de volta após uma suspensão que só
durou um mês. Em 8 de fevereiro, às vésperas do Carnaval, os deputados
derrubaram, por 52 votos a 12, a decisão do desembargador Benedito Abcair, do
Órgão Especial do TJ-RJ, que determinou o afastamento do cargo. Lucinha é
investigada pela Polícia Federal e pelo Ministério Público por ligações com o
miliciano Zinho,
responsável por ataques a ônibus e trens na zona oeste.
Em mensagens interceptadas pela PF, os
criminosos se referem à deputada como "madrinha", trocam informações
e pedem favores. Lucinha atuaria como uma espécie de "despachante" da
milícia, interferindo até na troca de comandantes de batalhões da Polícia
Militar.
Em novembro, pouco antes de estourar o
escândalo Lucinha, a cabo Vaneza
Lobão, que investigava a atuação de grupos paramilitares, foi morta na
porta de casa em Santa Cruz com tiros de fuzil. Em mais um caso que combina
violência e estrutura do Estado, dois subtenentes da PM foram presos por
suspeita de envolvimento no assassinato. Não houve repercussão na Alerj nem nas
redes da extrema direita. Falar da guerra lá fora é mais cômodo e eficiente.
Exatamente!
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