O Globo
Novo ministro terá que lidar com crise que
antecessores nunca precisaram enfrentar
A fuga de dois detentos em Mossoró mancha a
imagem da última instituição de segurança que parecia funcionar no Brasil.
Desde que saiu do papel, há 18 anos, o sistema penitenciário federal nunca
havia sido vencido pelo crime. A escrita terminou junto com o carnaval, na
madrugada da Quarta-Feira de Cinzas.
O episódio joga pressão sobre o novo ministro
da Justiça, Ricardo Lewandowski. No cargo há apenas duas semanas, o
ex-magistrado não pode ser responsabilizado pelo vexame. Mas terá que lidar com
uma crise que seus antecessores jamais tiveram que enfrentar.
Na primeira declaração sobre o assunto, Lewandowski disse que a fuga foi um caso “episódico, localizado e fortuito”, que não deve afetar a confiança no sistema prisional. A fala não combina com a decisão de suspender visitas e banho de sol nas outras quatro penitenciárias federais.
A medida evidenciou que o governo teme um
efeito contágio. Se aconteceu em Mossoró, poderia se repetir em presídios que
também eram vistos como fortalezas inexpugnáveis, como Porto Velho e
Catanduvas.
Na entrevista desta quinta, Lewandowski
descreveu os dois fugitivos como “soldados do crime” que teriam aproveitado o
fim de feriado, quando os carcereiros estariam “mais relaxados”. Segundo a
versão oficial, a dupla escapuliu por um buraco no teto e usou um alicate para
cortar o alambrado. “Foi uma fuga, diria eu, que custou muito barato”, arriscou
o ministro. Não se pode dizer o mesmo sobre o custo político que o episódio
terá para o governo.
A extrema direita já começou a usar o caso
para sair do corner em que apanhava desde a semana passada, quando a PF fez
buscas nas casas de Jair Bolsonaro e de militares envolvidos na intentona
golpista. Agora o novo ministro será obrigado a se explicar ao Congresso.
Lewandowski deve ser convocado a depor na
Comissão de Segurança Pública da Câmara, dominada pela bancada da bala. Sem
experiência em embates políticos, passará horas na mira de um pelotão de
deputados bolsonaristas. Será um batismo de fogo para quem acaba de interromper
uma aposentadoria confortável para se aventurar num dos postos mais espinhosos
do governo.
Verdade.
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