O Globo
Presidente mostrou-se exemplar nas suas
relações com os militares
Com oito anos de governo na biografia e tendo
atravessado uma tentativa de golpe de Estado depois de sua eleição e mesmo
depois da posse, Lula mostrou-se
exemplar nas suas relações com os militares.
Numa trapaça da História, na volta, ele foi
precedido por um ex-capitão que destruiu 30 anos de reconstrução das relações
das Forças
Armadas com a política. Se alguém quisesse inventar um
personagem para fazer semelhante estrago, precisaria de muita imaginação.
O ex-capitão encheu o governo de oficiais, botou um general da intendência no Ministério da Saúde, combateu a vacina e exaltou a cloroquina. Prenunciando apocalipses, manipulou generais para desafiarem o resultado eleitoral, fingindo que duvidavam da lisura das urnas eletrônicas. Associou a imagem de oficiais do Exército a garimpos ilegais. Tamanha foi a bagunça que em seu governo um ajudante de ordens tornou-se figura preeminente. Isso só aconteceu antes, em ponto muito menor, nos governos de João Goulart e João Batista Figueiredo.
A anarquia de Bolsonaro desembocou na armação
mambembe de um golpe de mão contra o resultado eleitoral e na vandalização das
sedes dos três Poderes no 8 de Janeiro. Felizmente, as investigações vêm dando
nome aos bois.
A relação impecável estabelecida por Lula
precisa ser mantida e respeitada. Os militares devem ser mantidos unidos a
partir de seu profissionalismo. Foi ele que bloqueou o golpe de Bolsonaro. Ao
contrário do que achou o general Braga Netto, candidato a vice na chapa do
ex-capitão, um general que respeitava o resultado eleitoral não se transformou
num petista “desde criancinha”.
Por mais esforço que se faça, ninguém
acredita que a maioria dos generais e coronéis tenha votado em Lula.
Felizmente, do meio civil não saíram destacadas vivandeiras. Na noite do
segundo turno, o presidente da Câmara, Arthur Lira, foi o primeiro a reconhecer
o resultado eleitoral.
Não tendo havido vivandeiras relevantes de um
lado, a exposição dos detalhes da trama de Bolsonaro não deve estimular o
surgimento de vivandeiras com sinal trocado. As investigações sobre as tramas
de Bolsonaro são conduzidas pela Polícia Federal, sob o olhar do ministro
Alexandre de Moraes. Dessas duas fontes têm jorrado revelações, mas não vazam
maledicências. É apenas disso que se precisa.
Essa característica, associada ao
comportamento de Lula, garante a preservação da unidade das Forças Armadas.
Quem pisou fora das quatro linhas da Constituição deverá pagar, a partir das
investigações e por decisão da Justiça. Fora daí, resta apenas o mundo das
fofocas e das punhaladas pelas costas. Foi a divisão militar da segunda metade
do século XX que ajudou a produzir 1964.
A articulação golpista de Bolsonaro era de
vidro e se quebrou. Além dele, foram inexpressivos os civis que rondaram
quartéis. Nisso, 2022 difere, para o bem, dos cenários do século passado. Civis
como Fernando Henrique Cardoso e Lula deram qualidade à relação da política com
os militares. Veio um ex-capitão e quase pôs tudo a perder.
Em 1964, João Goulart acreditava estar
amparado por um “dispositivo militar”. Passado mais de meio século, Jair
Bolsonaro falava no “meu Exército”. Enganaram-se.
É bem isto!
ResponderExcluirELIO GASPARI EM BOA SAFRA.
ResponderExcluirJÁ NÃO ERA SEM TEMPO
Pois é!
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