O Estado de S. Paulo
Há um terreno comum a ser redescoberto por todas as forças democráticas, de modo que a luta áspera inerente às democracias marginalize extremos
Em memória de Luiz Werneck Vianna
Este é um tempo político de mudanças
simultaneamente repentinas e graduais. E tudo se complica ainda mais quando
observamos que, entre os dois tipos de mudança, não há nenhuma muralha da
China. Transformações mínimas, mas prolongadas, subitamente abrem um quadro
novo, alteram as relações entre política e economia, deixam para trás formas
tradicionais de expressão dos conflitos. Os saudosistas diriam que nunca foi
muito diferente e que assim se cumpre uma das outrora celebradas “leis da
dialética”, a que determinaria a transformação da quantidade em qualidade.
O certo é que hoje nos sentimos em geral forçados a andar sem muletas ou corrimãos. Quando alguma correlação menos instável podia ser estabelecida entre classe e partido, ou entre partido e nação, seguia-se daí, quase automaticamente, um esboço de tipologia. Extremadas seriam as agremiações que se limitassem a escutar sua classe de referência, sem interpelar de verdade outros setores sociais. Maduras seriam as que se abrissem aos problemas de toda a nação, mais além do próprio interesse parcial. Para estas, a questão do centro político tornavase estratégica, implicando, entre outras coisas, a permanente busca de alianças e a posse de uma cultura de governo.
Estudiosos de praticamente todas as
orientações têm destacado, nas democracias contemporâneas, a implosão deste
centro político. Lugar de mediação por excelência, ele não é um vazio termo
médio entre extremos, mas o produto da ação muitas vezes dura e conflituosa de
atores antagônicos. Tais atores, no entanto, estão plenamente conscientes de
que, não obstante os confrontos, mais importante do que o resultado eventual do
jogo é a manutenção das suas regras ou a alteração consensual delas. Destruído
este lugar, anuladas as mediações que o compõem em cada circunstância, a
política se esfuma, os interesses brutos se chocam, a violência logo se desenha
com seu cortejo de golpes e embates sem lei.
Não é preciso muito esforço para perceber que
tal ameaça habita o coração dos modernos populismos autoritários. Nativistas
economicamente e socialmente conservadores – ou, melhor, reacionários –, querem
moldar toda a vida a partir de um fictício passado que desconheceria as
dilacerações do presente e os riscos do futuro. O antagonismo que propõem é de
tipo “radical” e “subversivo”. A polarização que estimulam não admite
assimilação ou superação do argumento adversário, mas seu aniquilamento. De
resto, os autoritários não querem fazer brotar consenso algum, ainda que
provisório e sujeito a disputas e revisões.
Em conjunto, tais populismos delineiam uma
vertiginosa “biografia do abismo” – para usar a metáfora de Felipe Nunes e
Thomas Traumann – que se baseia na versão rebaixada de um slogan
soixante-huitard, o de que “tudo é política”. Da arena pública em sentido
estrito transbordam indevidamente indicações e comandos sumários para todas as
dimensões do cotidiano. A canção que escutamos, o livro que lemos, a marca que
consumimos e, muitas vezes, até os amores que escolhemos são sobredeterminados
pela orientação política totalizante. E o circuito se fecha quando este mesmo
cotidiano devolve à política a exigência de girar em torno de valores absolutos
ou pretensamente absolutos, por natureza inegociáveis.
A esquerda brasileira no poder apresenta-se
como o núcleo de uma frente ampla e democrática que ultrapassa a própria
fronteira – uma frente que se impôs devido à particular gravidade de que se
reveste o segundo mandato de autocratas e aspirantes a autocratas. Daí decorre,
pela natureza das coisas, a necessidade de efetivar o movimento acima
mencionado – saber superar a si própria, saindo do seu horizonte mais estrito e
incorporando de boa-fé conceitos e modos de agir que antes lhe eram estranhos.
Cada palavra e cada ação passam a ser medidas pelo potencial que carregam de
aumentar ou diminuir o fosso entre os eleitores da frente e a outra metade de
brasileiros que por este ou aquele motivo preferiram – legitimamente, diga-se –
um caminho diverso.
Trata-se de esforço a ser empreendido de
múltiplos modos. Do ponto de vista prático, antes de mais nada, é preciso
admitir para todos os efeitos que aquele autoritarismo reacionário de que
falamos não é flor envenenada de um único jardim. Costuma medrar também nos
espaços da “esquerda negativa”, como é o caso próximo de uma Venezuela
repressiva internamente e perigosa externamente. E este é só um exemplo, ao
qual poderíamos sem esforço acrescentar muitos outros.
Culturalmente, no entanto, a linguagem da
frente ainda precisa se generalizar, tornando-se potente recurso expressivo. Em
torno dela e das suas variações dialetais é que se poderá reconstituir o centro
político ou, como dissemos, o lugar central da política. Há um terreno comum –
contraditório, mas comum – a ser redescoberto por todas as forças democráticas,
de modo que a luta áspera inerente às democracias marginalize extremos,
propicie equilíbrios sociais mais avançados e impeça a mútua destruição dos atores.
*Tradutor e ensaísta, é um dos organizadores
das Obras de Gramsci no Brasil
TEMOS QUE CONVERSAR.
ResponderExcluir■■Não temos que brigar com os que protegem forças ou líderes políticos associados a ditaduras e terroristas , como os que defendem o PSOL, o PT, Lula ou Bolsonaro.
■O que temos que fazer é combater os impostores mesmos e suas imposturas se dizendo democratas, quando está esfregado na cara de todos nós seus envolvimentos com as forças e líderes obscurantistas pelo mundo todo, do presente e do passado::
●Regime de Cuba;
●do Irã;
●Nicolás Maduro;
●Xi Jiping;
●Josef Stalin;
●Capitão Brilhante Ustra;
●Regime da Coréia do Norte;
●Vladimir Putin;
●Hamas;
●Leon Trotsky
●Victor Orbán;
●Rodrigo Duterte...
Temos que compreender que infelizmente os que são capturados pela malha afetiva de um populista como Lula e Bolsonaro se tornam vulneráveis à sua pregação e as repete.
VOU COLAR AQUI DOIS QUADRADINHOS QUE POSTEI NO TWITTER::
■■■
EdsonLuiz. @edson_pianca · 26 min
1° DROPS.
■NOS ENSINA STEFAN ZWEIG::
■ " Ditosamente existe entre a verdade e a mentira uma terceira possibilidade: o erro. Defender um conceito errôneo com profunda e íntima convicção, como um evangelho, não significa mentir nem enganar. ".
■■■
EdsonLuiz. @edson_pianca · 25 min
2° DROPS::
■■TEMOS QUE CONVERSAR
COM OS QUE DEFENDEM
TERRORISTAS E DITADORES.
■Não temos que condená-los ou ofendê-los::
=》Em geral eles não estão enganando nem mentindo. Em geral eles foram enganados por ideologismos e estão apenas repetindo o que lhes incutiram.
=》E um outro quadradinho do Twitter em agradecimento aos democratas e às democracias, nesta data em que o esfolamento da Ucrânia pela ditadura da Rússia completa 2anos.
Excluir■■■
EdsonLuiz. @edson_pianca ·1 h
■■TODA FORÇA À UCRÂNIA!
TODA FORÇA AO DESEJO DE DEMOCRACIA DA UCRÂNIA!
■E um agradecimento especial a todas as democracia e democratas que apoiam a Ucrânia para ela tentar resistir à monstruosidade da ditadura da Russia, que aqui no Brasil tem o apoio de muita gente do PT e PSOL.