O Globo
Depois de se esconder na embaixada da
Hungria, ex-presidente quer convencer STF a devolver seu passaporte
Em agosto de 2023, Jair Bolsonaro foi a
Goiânia receber um título de cidadão honorário. A homenagem havia sido proposta
pelo Sargento Novandir, dublê de vereador e policial militar. O capitão estava
em apuros. Preso desde maio, seu ex-ajudante de ordens negociava uma delação.
Mesmo cercado por sua claque, Bolsonaro parecia tenso. Na tribuna, lembrou sua escapada para Orlando na véspera do fim do mandato. “Estive três meses nos Estados Unidos, no estado da Flórida. Realmente, um estado fantástico”, elogiou. “Apesar de ter sido acolhido muito bem, não existe terra igual a nossa. Sei dos riscos que corro em solo brasileiro, mas não podemos ceder”, prosseguiu.
O ex-presidente não se aprofundou sobre os
tais riscos. Nem precisava. Naquela altura, a Polícia Federal já tinha provas
de que ele havia desviado joias recebidas como presentes oficiais. O que não se
sabia, ainda, é que Cid entregaria outros rolos do chefe.
No início de fevereiro, a PF fez buscas nas
casas de Bolsonaro e seus comparsas na tentativa de golpe. O capitão teve o
passaporte apreendido para não fugir do país. Quatro dias depois, entrou
secretamente na embaixada da Hungria em Brasília. Lá permaneceria incógnito por
duas noites, em pleno feriado de carnaval.
A defesa do ex-presidente deu uma desculpa
curiosa para a estadia. Disse que Bolsonaro só queria “manter contatos” e
“atualizar os cenários políticos das duas nações”. “Quaisquer outras
interpretações se constituem em evidente obra ficcional, sem relação com a
realidade dos fatos”, arrematou. Ninguém espera que advogados incriminem seus
clientes, mas os doutores poderiam ter sido mais criativos.
A Operação Hungria tinha objetivo claro. Como
a embaixada é inviolável, o capitão passou dois dias fora do alcance da
polícia. No caso de uma ordem de prisão, ele poderia pedir asilo ao premiê
Viktor Orbán, seu aliado na liga da extrema direita. Falta entender por que
Bolsonaro resolveu voltar para casa na Quarta-Feira de Cinzas.
Em ofício ao Supremo, a defesa afirmou ser
“ilógico” sugerir que o carnaval na embaixada tenha sido uma tentativa de fuga
ou uma negociação de asilo. Se não teme ser preso, quais seriam os riscos que o
capitão disse correr no Brasil? Na dúvida, ele já pediu a devolução do
passaporte.
O risco de ser preso,uai!
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