Valor Econômico
Economia começou o ano com mais vigor e com
isso melhoraram as projeções do mercado para 2024
Na estratégia de reação à queda na
popularidade do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a ordem é sair
da defensiva e entregar à população o que foi prometido nos palanques e nas
cerimônias no Palácio do Planalto.
Na área econômica, o plano é focar nas propostas que estão em análise no Congresso, chegar a um novo entendimento com os Estados em torno de suas dívidas com o Tesouro Nacional e lançar novas medidas de estímulo ao crédito para pessoas e empresas.
A agenda legislativa é extensa e resta pouco
tempo até o meio do ano, quando as atenções dos congressistas se voltam para as
eleições municipais. As complexas propostas de regulamentação da reforma
tributária, que precisam ser aprovadas neste ano, ainda estão em discussão
entre o Ministério da Fazenda e representantes de Estados e municípios.
No campo do crédito, a ideia é remover
entraves para que empresas e produtores agrícolas de menor porte possam tomar
empréstimos. Além disso, criar novas opções de financiamento para famílias.
Em sua apresentação durante a reunião
ministerial ocorrida na última segunda-feira, o ministro da Fazenda, Fernando
Haddad, listou algumas medidas: uma versão do Desenrola para pequenas empresas,
linhas de microcrédito para pessoas inscritas no Cadastro Único (CadÚnico),
securitização do crédito imobiliário e mudanças no crédito consignado para
trabalhadores do setor privado.
O crédito deve ser uma alavanca importante
para o crescimento econômico em 2024, disse a este jornal o secretário de
Política Econômica, Guilherme Mello. Ele coordena a elaboração de algumas
dessas medidas. Será ainda mais importante em 2025, quando os efeitos dos
cortes na taxa de juros básica, a Selic, estarão mais presentes na economia.
O governo avançou bastante para destravar o
crédito. No ano passado, sob a coordenação do secretário de Reformas
Econômicas, Marcos Pinto, foram aprovadas medidas como um novo marco legal para
garantias, simplificação da emissão de debêntures e a possibilidade de utilizar
saldos em fundos de previdência como colateral para empréstimos. A agenda segue
neste ano, com projetos em análise pelo Legislativo: novas regras de proteção
aos acionistas minoritários, mudança na lei de falências e um novo marco legal
para seguros, entre outros.
Além desses, o governo quer baratear o
crédito consignado para trabalhadores do setor privado. A discussão dos ajustes
necessários ao programa, porém, é objeto de divergência entre as pastas do
Trabalho e da Fazenda.
Uma proposta sobre a mesa envolve bloquear
uma parte do saldo do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) do
trabalhador quando o empréstimo for contratado. Assim, ficaria contornado o
risco de o banco deixar de receber, caso a pessoa mude de emprego. Os
empréstimos seriam contratados por meio do FGTS digital, eliminando outro
gargalo dessa operação: a dificuldade de algumas empresas em celebrarem
convênios com instituições financeiras.
O ponto de divergência, segundo fonte a par
das negociações, é que o ministro do Trabalho, Luiz Marinho, quer utilizar essa
nova modalidade de crédito como substituto do saque-aniversário e dos
empréstimos consignados que utilizam esses recursos como garantia, os quais
pretende extinguir. A Fazenda resiste, pois esses empréstimos são
comparativamente baratos (1,79% ao mês, ante 2,73% do consignado privado nas
atuais condições e 5,68% do crédito pessoal).
Não se sabe se, com as mudanças, os bancos
aderirão em massa ao novo consignado a ponto de substituí-lo. A avaliação no
mercado é que o processo será gradual. Daí porque uma alternativa em negociação
é adiar o fim do saque-aniversário do FGTS, até que se tenha clara a
atratividade da nova linha de crédito.
O ano começou com demonstrações de vigor da
atividade econômica. Na reunião ministerial, Haddad listou dados favoráveis
observados em janeiro: geração de 180,4 mil vagas formais (o dobro do esperado
pelo mercado), o avanço da renda real do trabalho para R$ 3.118 (ante R$ 3.100
em dezembro), venda de veículos 21% superior à média observada de 2016 a 2023.
Melhoraram as projeções econômicas feitas
fora do governo. No dia 8 de março, as estimativas do mercado financeiro
captadas na pesquisa Focus apontavam para um crescimento econômico de 1,78%
ante 1,59% em 5 de janeiro. Na mesma comparação, a expectativa para o Índice de
Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) recuou de 3,90% para 3,77% e a estimativa
para a dívida líquida do setor público caiu de 64,65% do Produto Interno Bruto
(PIB) para 63,69% do PIB.
Nada disso impediu que, nas pesquisas de
opinião, fosse registrada piora na avaliação da economia. A alta nos preços dos
alimentos responde por parte desse desgaste, admitiu o secretário. Assim como a
disseminação de narrativas que criam uma percepção negativa da situação
econômica.
Para Mello, a resposta a tudo isso é seguir
trabalhando. No ano passado, 13 milhões deixaram de passar fome. No entanto,
restam 20 milhões em situação de insegurança alimentar grave. O custo de vida
segue elevado, daí a necessidade de insistir na harmonização das políticas
fiscal e monetária. Desemprego e informalidade seguem em pauta. “Ainda tem
muito trabalho a fazer”, frisou.
Estamos no caminho certo.
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