Folha de S. Paulo
Filme indicado ao Oscar mostra como obsessão
da militância por opressão estimula caricaturas de minorias na literatura
Na última década, o Oscar tem
buscado premiar mais panfletos sociais e políticos do que filmes. O fenômeno é
resultado da ascensão do movimento
identitário, que cobra por indicação e premiação de histórias de opressão
de minorias, e reclama quando elas não recebem estatuetas.
Mas, neste ano, não se viu a tradicional indignação por um filme dirigido por um negro (Cord Jefferson), com elenco negro e baseado no livro de um escritor negro (Percival Everett) não ter sido premiado nas categorias de melhor filme e ator —venceu em roteiro adaptado.
Talvez porque o excelente "Ficção
Americana" satirize aspectos nefastos do movimento identitário.
Thelonious "Monk" Ellison, escritor
e professor universitário negro, tenta publicar um livro baseado numa peça de
Ésquilo. Contudo, mesmo que o editor avalie bem a obra, não a vê como relevante
para a experiência afro-americana.
Como resposta irônica, Monk oferece sob
pseudônimo um livro sobre uma família negra pobre disfuncional, envolvida com
criminalidade, e permeado por gírias. O trabalho é sucesso de público e
crítica.
Aponta-se, assim, o erro em considerar a
identidade como ponto gravitacional de todos os aspectos da vida do indivíduo,
inclusive estéticos. E não uma identidade multifacetada, mas presa à ideia de
opressão. Como diz John McWhorter, ao resumir tal distorção conceitual do
movimento identitário: "o significado de ser negro é passar a vida inteira
enfrentando o racismo".
Dessa forma, a militância, em vez de
combater, acaba por estimular caricaturas ressentidas de minorias.
Negros, mulheres e homossexuais não precisam escrever apenas sobre a violência
do preconceito. São sujeitos curiosos, com vivências e interesses variados. O
teatro de Ésquilo não é admirado apenas por gregos.
Há quem culpe o mercado editorial, controlado
por brancos. Mas o mercado apenas supre a demanda de um nicho, que se baseia em
estereótipos artificiais consagrados pela insensatez da ficção identitária.
Perfeito. Amancio não gostou?
ResponderExcluirMAM