Folha de S. Paulo
Alexandre Silveira encontrou forma de
disputar poder falando o que Lula quer ouvir
Alexandre Silveira levantou fervura numa
briga que anda em banho-maria desde o início do governo. O ministro de Minas e
Energia tem conflitos notórios sobre os rumos da Petrobras com
o presidente da empresa, Jean Paul Prates. O chefe da pasta decidiu tratar a
desavença como uma campanha aberta de oposição.
Silveira se sentou para uma entrevista à Folha sem disposição para disfarçar seu desapreço. Perguntado se Prates tem qualidades necessárias para conduzir a companhia, o ministro respondeu que não rotularia ninguém. Depois, foi incapaz de mentir sobre o que pensa do colega: "A avaliação da gestão do presidente da Petrobras eu deixo a cargo do presidente da República".
Na conversa, o ministro culpou o chefe da
Petrobras pela tensão na
distribuição dos dividendos da empresa. Sem sutileza, sugeriu que o
problema teria sido evitado caso Prates fizesse o que ele (Silveira) quer.
"Se o presidente da empresa, naquele momento, tivesse votado com o
conselho, não teria tido barulho."
O ministro está no cargo por indicação do
presidente do Senado e se aliou ao chefe da Casa Civil, mas algo mais explica a
desenvoltura com que ele desfere suas pancadas. Silveira bate em Prates porque
encontrou uma maneira de disputar poder falando o que Lula quer
ouvir.
Com uma carreira política que o aproximou de
José Alencar e Aécio Neves, o ministro é hoje um crítico vocal de "lucros
exorbitantes" na Petrobras. Em outras áreas, liderou a tentativa de
emplacar Guido Mantega na chefia da Vale, defende a revisão de cláusulas da
privatização da Eletrobras e ensaiou uma
dobradinha com Guilherme Boulos para emparedar a Enel em São
Paulo.
Lula deixa o confronto entre Silveira e
Prates correr solto. O presidente entende que mudanças na empresa dependem
mesmo de alguns solavancos. O problema é quando os choques travam ou aumentam a
incerteza sobre políticas estratégicas da companhia. Silveira dá
todas as indicações de que só ficará satisfeito quando derrubar Prates.
Nenhum comentário:
Postar um comentário